sábado, maio 14, 2011

PLANOS DE SAÚDE, MÉDICOS E BOICOTE

A categoria médica quer boicotar o atendimento aos planos de saúde. Há várias traduções para esse "boicote". Uma delas é a crença dos profissionais de medicina que mantém contrato com seguradoras e planos de saúde de que têm todo o direito de suspender um serviço e forçar um aumento de remuneração, que estaria aquém do esperado. Outra tradução para esse "boicote" é o prejuízo da população que paga pelo plano de saúde e fica sem atendimento médico. As empresas aguardam o circo pegar fogo...
Afinal, o que se depreende de uma situação como essa? Quem são os mocinhos e os bandidos? O mercado que explora a saúde é sem dúvida lucrativo, mas isso exige uma mentalidade administrativa voltada para o capital e não para um serviço público, ou seja, planos de saúde visam lucros e não necessariamente a saúde de seus conveniados, o que se choca com os interesses da sociedade.
Os profissionais de medicina, por outro lado, utilizam-se dos convênios também por uma razão prática: convênios médicos canalizam clientes e mantém uma regularidade de demanda. As empresas sabem disso e pagam valores inferiores ao de consultas particulares. Os médicos aceitam pois o volume paga ( ou pagava) com vantagens os altos e baixos do atendimento particular. Há psiquiatras (e psiquiatria exige em teoria consultas mais demoradas) que fazem "consultas relâmpagos", na média de dez minutos por paciente. Isso pode ocorrer em diferentes especialidades, tanto que os consultórios vivem lotados e há casos em que conveniados precisam marcar consultas com um ou dois meses de antecedência. É mais rápido obter atendimento no SUS.
Quantidade de clientes, má qualidade de atendimento. É esse o risco do cidadão que paga para garantir uma consulta que deveria, em tese, ter a qualidade de qualquer atendimento particular, pois é isso que os planos de saúde oferecem.
O presidente da Fenam, Federação dos Médicos, Cid Carvalhaes, classificou de "tribunal de exceção" a decisão da Secretaria de Direito Econômico, a SDE, do Ministério da Justiça, que proibiu os medicos de usarem a tabela da categoria para cobrança de consultas e outros serviços em planos de saúde. A medida  protege a "parte fraca" da questão, o cliente que paga pelos planos de saúde. A proibição de paralisações ou boicotes que visam obter maior remuneração por consulta, não favorecem as empresas de planos de saúde, mas também evitam maiores transtornos aos clientes.
Por outro lado a SDE também instaurou processos contra os planos Amil, Assefaz e Golden Cross, com a finalidade de apurar violações dos direitos dos consumidores. Essas empresas tem prazo de dez dias para prestar esclarecimentos sobre a interrupção de atendimento a pacientes e cobranças indevidas.
O que se depreende disso tudo é o seguinte: boicotes não resolvem a situação da remuneração aos profissionais pelos convênios e podem até piorar a situação do consumidor, porque o que se observou desde sempre é que as empresas de planos de saúde nada perdem, mas repassam diferenças aos já salgados preços dos convênios.
Seria fundamental rever os lucros dessas empresas. Ainda que parte delas enfrentem dificuldades, o que se observa é que seguros e planos de saúde são altamente rentáveis, pois se assim não fosse não haveria tanto interesse nesse mercado, nem tampouco seriam observados gigantes como a Amil, que incorporou ao seu patrimônio outras empresas do setor e do próprio atendimento direto, adquirindo hospitais e clínicas.
Portanto os casos devem ser reestudados e as regras refeitas,  no sentido de que haja menor exploração dos lucros pelas empresas de saúde, uma remuneração compatível ao profissional e punição eficiente nos casos de mau atendimento ao segurado ou conveniado.
De certa maneira parte dessas exigências foram obtidas nos últimos anos e realmente houve  uma melhora no setor. No entanto as grandes empresas, inconformadas com a diminuição dos lucros fabulosos, voltaram a pressionar a classe médica, com remuneração muito baixa para consultas e procedimentos, exigindo ainda que o atendimento ao cliente seja o mais econômico possível, evitando exames dispendiosos, mesmo que isso torne o diagnóstico mais preciso em casos preventivos.(A.R/Articulando)


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