sexta-feira, fevereiro 25, 2011

RISCO DE MORTE VIOLENTA É MAIOR PARA OS JOVENS

Adolescentes e jovens estão mais sujeitos a morte violenta, em ocorrências crescentes nas últimas décadas: 76% , de acordo com dados da pesquisa "Mapa da Violência 2011 -Os Jovens do Brasil".
O estudo, realizado pelo Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça, impressiona porque mostra uma ascenção acelerada da incidência de acidentes de trânsito e homicídios de pessoas entre 15 e 24 anos: na década de 80 cerca de 30 jovens eram vitimas de morte violenta para cada 100 mil habitantes. Em 2008 já eram registradas 52,9 mortes por 100 mil habitantes.

O trânsito é o grande vilão, com aumento de  56,1% no mesmo período. Velocidade, ingestão de bebidas alcoolicas e, principalmente, o uso de motocicletas, que tornam o condutor mais vulnerável em caso de acidente são apontados como causa. Mas homicídios preocupam pela sua escalada. De cada 3 jovens assassinados, dois são negros.

O que se observa é que a população jovem está cada vez mais sujeita a violência em todas as suas manifestações. O próprio ambiente escolar, que antes era sinônimo de segurança, agora mostra descontrole, com o aumento de brigas entre crianças e adolescentes.

As agressões entre adolescentes aumenta perigosamente, principalmente nos namoros precoces. Entre 15 e 19 anos, nove  entre dez adolescentes confirmaram sofrer algum tipo de violência. A violência verbal acontece em 85% das relações nessa faixa etária.

As causas são principalmente culturais e é observado um agravamento dos conflitos comuns a essa fase de vida,  influenciados pelo ambiente de insegurança e pelo fato de que hoje a precocidade é cada vez maior, inclusive na sexualidade. Também a violência sexual entre adolescentes aumentou, embora o registro de ocorrências nas delegacias demonstre que a agressão maior vem da violência doméstica e abuso de incapaz. Ou seja, crianças e adolescentes são vítimas de situações de grande risco provocadas também por adultos.

A desagregação familiar, a miséria e as drogas são causas apontadas para o aumento dos problemas que levam os adolescentes a situações de risco. Mas a ausência do acompanhamento familiar - cada vez mais comum em todas as classes sociais, inclusive na classe média - é sem dúvida um fator de peso. O adolescente nem sempre conta com orientação adequada ou consegue suprir sua necessidade de atenção com os pais, que por sua vez deixam por conta da escola a responsabilidade de gerenciar a educação. O resultado é uma desorientação cada vez maior da criança e do adolescente.


Leia também


http://leiamirna.blogspot.com/2010/10/enfrentando-violencia.html
http://artemirna.blogspot.com/2010/11/o-pensamento-artificial.html

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

AUTORIDADES CULPAM "VAZAMENTO" NO CASO DE ABUSO CONTRA ESCRIVÃ


A  corregedora geral da Polícia Civil, Maria Inês Trefiglio Valente, declarou que o desnudamento da escrivã  foi "uma atitude que o delegado tinha de tomar para pegar a prova".  A declaração repercutiu negativamente, pois abre precedente para o desrespeito à lei  e banaliza o direito de preservação da dignidade. "Ele tomou a atitude que tinha que tomar para pegar a prova", declarou Valente.
Uma declaração desastrada.  A idéia de que uma autoridade policial ganha o direito da onipotência sobre um suspeito, decidindo inclusive ignorar a lei, remonta os tempos dramáticos da ditadura. Em um ambiente que trabalha em benefício da justiça - e este é o caso das delegacias de polícia - a ávida batalha para desmacarar aqueles que burlam a lei deve preservar antes de mais nada os direitos legais do cidadão! Como exigir respeito à lei se a própria autoridade polícial a despreza?
Policiais sofrem, ninguém duvida disso. Enfrentam enorme burocracia, atendem inúmeras ocorrências, correm risco nas investigações ou nos confrontos.  Ganham mal - principalmente em São Paulo, o que é uma contradição e sofrem de problemas de saúde decorrentes do estresse profissional.  Mas existe o outro lado da moeda: nem sempre conseguem manter uma relação com a comunidade,  que têm medo da polícia mesmo quando não é marginal! Nem sempre observam limites de atuação, conforme mostram denúncias e gravações onde a violência parte do policial.
A corrupção deve ser combatida e o trabalho das Corregedorias é extremamente importante! Mas não tem cabimento arrancar calças e cuecas de suspeitos ou cometer qualquer outro abuso que desmereça a mesma dignidade da lei que se pretende preservar!
O governador Geraldo Alckmin criticou o vazamento do vídeo que mostra a violência a que foi submetida a ex-escrivã . Deveria ter criticado abuso em si, pois não há argumentos que justifiquem a ação  da corregedoria. Mesmo porque as notas, falsas ou não, que estariam "escondidas na calcinha da suspeita", não eram relevantes para um processo e punição, pois segundo os delegados já havia um denunciante e portanto outras maneiras do crime ser apurado.
Mesmo assim, diante dessa situação drástica, Maria Inês Valente  declarou que um inquérito foi aberto  na ocasião. “O promotor diz que não houve crime e não houve elemento subjetivo para crime de abuso. Os promotores do Gaeco se manifestaram da mesma forma. O Judiciário disse que eles usaram a força adequada”, explicou. Por isso o inquérito foi arquivado em janeiro de 2010. 
Essa insistência em minimizar o ato apenas torna o cidadão mais desconfiado e temeroso da instituição policial, que deve ser norteado pelo bom senso e pela rigidez da lei, pois é para isso que existe e é mantido.

O QUE DIZ A EX-ESCRIVÃ

Em entrevista à imprensa a ex-escrivã disse que o ocorrido mudou sua vida. "Foi a pior humilhação" declarou,  "Como profissional fui desrespeitada, como mulher fui violada e humilhada". 
Segundo ela, no dia do ocorrido cerca de nove homens  entraram no Cartório da delegacia e a levaram para outra sala, onde foi algemada e despida apesar de ter pedido repetidas vezes que queria ser revistada por policiais mulheres. 
"Não quero mais sair de casa, não quero ver as pessoas, não quero mais nada" diz a ex-escrivã.
O Sindicato dos Delegados de Polícia manifestou-se criticando a atitude dos policiais envolvidos. 


ALUNOS PRATICAM SEXO EM ESCOLA ESTADUAL

Dois alunos de uma escola estadual aproveitaram a sala de aula vazia e fizeram sexo. A cena, filmada pelo celular, acabou nas mãos da diretoria da escola. O ocorrido é mais uma demonstração da situação dos estabelecimentos escolares, que nos últimos anos sofrem também com sérios  problemas decorrentes da ausência de controle do espaço, como violência entre alunos e contra professores, ações de vândalos e o risco sempre presente de drogas.

Apesar de parte das escolas manter a ordem, crescem os estabelecimentos que não conseguem cumprir com a principal finalidade de uma escola, que é a educação em um ambiente preservado de vícios ou agressões. O professores  dizem não conseguir impor disciplina reclamam de alunos que não hesitam em agredi-los, verbal e até fisicamente. São registrados também aumento na ocorrência do chamado "buylling".
Não bastam o giz e o quadro negro nas escolas, que
exigem hoje uma estrutura coordenada com a
vigilância constante

No entanto o abuso parece ser mais evidente em estabelecimentos onde falta vigilância constante. Não há funcionários suficientes para exercer um trabalho de coordenação dos alunos nos intervalos e de constante trabalho  de apoio  psicológico dentro da nova realidade social. A maioria das crianças  e adolescentes já chega à escola com sinais de estresse e desinteresse e o simples  repasse do material curricular não ajuda no quadro cada vez mais grave de relacionamento e participação indispensáveis no ambiente escolar.

No entanto o uso de uma sala de aula para o sexo por dois adolescentes parece ser, definitivamente,  uma demonstração de que o ambiente das escolas estaduais necessita de uma reformulação urgente em sua administração, acima de qualquer argumento  do  governo do Estado.

LEIA TAMBÉM  http://leiamirna.blogspot.com/2010/10/alunos-sem-controle.html

terça-feira, fevereiro 22, 2011

SETE SEGUNDOS E NOVA AGRESSÃO À MULHER


Enquanto você está começando a ler estas linhas, neste momento exato pelo menos duas mulheres estão sendo espancadas.
Neste segundo parágrafo, outra estará sofrendo agressões! E assim vai, interminavel e absurdamente.  Calcula-se que a cada dois minutos cinco mulheres sofrem com a violência doméstica. A cada duas horas uma será assassinada!
Camila Duarte, Cenir de Freitas, Mércia Nakashima, Eliza Samúdio, Vanessa Duarte...mulheres que nunca se encontraram na vida, mas que tem em comum o fato de ter sido assassinadas pelos ex-companheiros ou por desconhecidos com motivação sexual. Estas mulheres são apenas uma parte da estatística macabra: em dez anos 41.532 mulheres foram assassinadas. Dez mortes por dia, representando 4 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Não há uma distribuição equitativa da violência, em alguns estados ela praticamente inexiste, em outros a incidência é alarmante, como acontece no Espírito Santo.

São dados constantes em estudo feito pelo Mapa da Violência no Brasil 2010, do Instituto Sangari e da pesquisa da Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc. As vítimas da violência doméstica impressionam neste levantamento: a cada 7 segundos alguma mulher está sofrendo agressões dentro do lar; 68% dos filhos assistem às agressões. Pior: pelo menos 15% das crianças sofrem violência junto com a mãe. Perto de  7 milhões de brasileiras acima de 15 anos já foram agredidas pelo menos uma vez!

É impressionante! A violência contra a mulher não acontece apenas no Brasil, mas o país está se tornando um dos lugares onde a violência doméstica e o assassinato de mulheres tem grande risco. Em todo mundo 70% dos assassinatos de mulheres foram cometidos pelo marido ou companheiro. O lar tornou-se uma armadilha perigosa.
A violência não reside exatamente na necessidade do homem prevalecer sobre mulher, como por exemplo a situação de igualdade social. Seria um comportamento desencadeado por um conjunto de circunstâncias que misturam frustação no meio social - que instigaria o comportamento agressivo - com a vulnerabilidade física feminina ( o homem é dotado de maior força muscular). Ou seja, a mulher é presa fácil, com recursos limitados de defesa. Aspectos culturais favorecem a violência, mas a tendência do indivíduo à passionalidade ou graus de psicopatia também precisam ser considerados.
O maior problema é a permanência da mulher em situação de risco. Via de regra o espancador não comete o crime apenas uma vez e irá repetir a agressão. Quando é desencadeada a agressão, a tendência é o uso cada vez maior da violência física.Qualquer fator externo poderá desembocar no ambiente doméstico a agressão sem limites.

A alternativa é evitar o confronto. Portanto a mulher deve se afastar da relação agressiva. Quando tomar essa atitude - recomendada pelas autoridades que acompanham os casos de violência doméstica - ainda estará em risco: muitos assassinatos acontecem após a dissolução do casamento ou da relação de namoro.
Ainda que pareça uma situação contornável, baseada na determinação de se afastar do agressor, a mulher ainda enfrentará graves riscos. A inconformação com o fato leva alguns homens a atuar como predadores: perseguem e vigiam a ex-mulher e podem cometer assassinato na primeira oportunidade.
É muito difícil para quem enfrenta a situação de agressão e risco de morte retomar a normalidade da vida. Denunciar as ameaças à policia nem sempre impede a ação violenta. O argumento é o de que o marido ou companheiro não pode ser preso e assim permanecer sem que haja um motivo consistente. Ameaças verbais e histórico violento nem sempre são considerados "motivos consistentes". Foi o caso de Eliza Samúdio, que chegou a gravar depoimento comprovando o risco, depois de ter sido espancada e obrigada a beber substância que seria abortiva quando grávida, pressionada pelo então goleiro Bruno Fernandes. Preso por assassinato, o ex-goleiro usa em sua defesa o argumento de que Samúdio era prostituta e atriz pornô...como se isso justificasse matar alguém!
A lei Maria da Penha, de agosto de 2006, ainda não surtiu o efeito desejado. A redução dos casos de violência é ainda pequena, e a prisão dos agressores também é inexpressiva. Com prisões lotadas de traficantes, assaltantes e assassinos, a figura do agressor de mulheres se torna menos urgente para as autoridades policiais. Até cometer o assassinato. É como uma roleta-russa: a mulher que sofre violência doméstica vive no risco de ser assassinada.

O DESABAFO DE POLICIAIS

O ocorrido com uma escrivã da Policia Civil, que foi revistada a força por policiais em uma delegacia paulista, ganhou maior dimensão com o vazamento da gravação do episódio, que foi parar na internet. Simultaneamente  levantou a discussão a respeito das condições enfrentadas por policiais, não apenas no comportamento ético, mas em denúncias da própria categoria quanto as condições de trabalho.

Evidentemente preocupados com a repercussão do caso, policiais alertam que casos de corrupção e ações que desprezam a ética existem, mas não seriam a regra. "Não generalizem, por favor, elementos que agem desse jeito não refletem o policial como um todo, existem excelentes profissionais na atividade policial", defendeu um policial.

Outros aproveitaram o momento para desabafar sobre as condições enfrentadas, que afetariam a qualidade das ações e propiciariam, em parte dos profissionais de diferentes níveis, o risco de ceder a corrupção e ao tráfico de influência. "Sonhava em ser Policial. Hoje não durmo com pesadelos de inquéritos vencendo, cobranças outras coisas, carga horária, salário.."

"Consegui ingressar na carreira de Escrivão de Polícia em 1990. Confesso acho que a minha nota foi uma das piores para o ingresso na carreira, mas como o passar do tempo eu percebi que tinha sensibilidade para o trbalho. Mas a própria instituição, falha e cheia de vicio, me transformou hoje numa pessoa debilitada, que com mais de vinte anos de carreira não consegue se aposentar".

A profissão de policial, repleta de riscos na ação diária, já tem uma síndrome reconhecida, chamada "Burnout". Essa síndrome decorre da carga de trabalho, competitividade e  pressão constante do chefe. A pessoa sente-se desmotivada e incapaz de produzir satisfatoriamente, comprometendo a produtividade. Policiais civis podem apresentar dificuldade no relacionamento, transtornos de ansiedade e humor, causados por essa síndrome do desgaste profissional. A consequência pode ir desde dores no corpo à depressão.

Os policiais reclamam de limitações que são impostas pelo sistema atual da policia civil, gerenciado pela Secretaria Estadual de Segurança Pública e da mentalidade em geral sobre a função, que colocaria o profissional em desvantagem contínua.
 "Lembrem-se do caso do promotor Tales, que matou um jovem no litoral, com vários disparos de arma de fogo. Se ele fosse um policial já teria sido exonerado e estaria mofando na cadeia. Não sou conivente com a má conduta policial e acho que quem erra deve responder pelas consequencias, mas não deve ter seus direitos desrespeitados"

"Infelizmente policial em São Paulo sofre, toma porrada de todos os lados, somos fiscalizados pela imprensa, pela população, pela corregedoria, pelo ministério público, pelo governo do Estado, etc. Por outro lado ninguém está preocupado com bem estar do policial paulista. Basta observar que o salário do policial em SP é o segundo pior do Brasil. Definitivamente só permanecemos na instituição porque amamos a profissão", desabafou um investigador.


Veja também : http://leiamirna.blogspot.com/2011/02/escriva-e-despida-forca-em-delegacia.html#comments





sexta-feira, fevereiro 18, 2011

ESCRIVÃ É DESPIDA A FORÇA EM DELEGACIA

Absurda a ação de policiais do 25 Distrito Policial (Parelheiros, zona sul de São Paulo) e dos delegados  Eduardo Henrique de Carvalho Filho, Gustavo Henrique Gonçalves e Renato Luiz Hergler Pinto que decidiram realizar uma revista  em uma ex-escrivã que seria acusada de receber R$200 para livrar um acusado de inquérito.

A cena, divulgada pelo Jornal da Band, é chocante. A escrivã, fechada em uma sala na presença de vários homens, policiais e delegados, não se nega a ser revistada, mas pede repetidamente para não ser exposta, requerendo policiais femininas, conforme prevê a lei. Mas não é ouvida: é derrubada, algemada e tem sua roupa arrancada pelos policiais.

O fato aconteceu em 2009 e foi filmado, mas apenas agora está sendo divulgado. A escrivã foi expulsa da polícia, mas surpreendentemente nenhum dos policiais presentes foi punido ou processado. Um exemplo do abuso que pode acontecer dentro das delegacias. Independente de ser culpada ou inocente, o fato é que a ex-escrivã sofreu abuso das autoridades presentes. Para quem assistiu, a cena é chocante e mostra como a linha que separa atos legítimos de defesa da sociedade de outros que envolvem violência e ações indignas, é frágil! (AC)

NR - No dia 21 de fevereiro, três dias depois da divulgação do vídeo que mostra a cena de violência e exposição íntima da então escrivã de polícia e mais de um ano depois do ocorrido, a Secretaria de Segurança do Estado divulgou que os delegados envolvidos estão afastados da função.

PROIBIÇÃO DE REVISTA ÍNTIMA FEMININA

A Câmara dos Deputados aprovou neste dia 2 de março projeto que proibe a revista íntima de mulheres em empresas e orgãos públicos. Apenas poderão ser revistadas mulheres em presídios quando  a revista  for realizada por funcionárias.

O projeto deverá passar ainda pelo Senado, mas tudo indica que será também aprovado. O objetivo é evitar abuso ou situações de exposição desnecessária da mulher. A proibição da revista íntima para mulheres é importante, embora a punição seja atípica para o caso: quem descumprir a norma pode ser condenado a pagar uma multa de 20 mil reais, que será revertida aos orgãos de proteção dos direitos da mulher. Mas uma vez que haja proibição, a tentativa de revista pode ser interpretada como outros crimes, como atentado violento ao pudor.

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

IMPRENSA É VÍTIMA DE CONSTANTES AGRESSÕES

"Fiquei estarrecido com a violência contra jornalístas no Egito (...) não existe um acordo internacional de neutralidade para imprensa? (...) Arlindo - Campinas

As denúncias mostram que as agressões a jornalistas no Cairo partiram de grupos que apoiavam  o presidente Hosni Mubarak. Mesmo após a queda de Mubarak, quando cobria a comemoração da população, uma jornalísta da CBS americana, Lara Logan, foi arrancada da multidão, espancada e violentada, segundo confirmou a emissora. Antes disso pelo menos 70 profissionais já haviam sido detidos desde janeiro no Egito.

Infelizmente isso não representa um acontecimento isolado. A imprensa é sempre uma "pedra no sapato" daqueles que dependem da confusão e da manutenção da mentira  ou de situações artificiais para manter o poder ou ganhar espaço. Em várias partes do mundo, no ano passado, quase 60 profissionais da imprensa foram assassinados, não apenas por atuarem em zonas de conflito, mas também vítimas  de milícias, máfias ou traficantes. A Ásia tem sido considerada a área mais perigosa para a imprensa e países como o Paquistão e o Iraque são considerados de alto risco para esses profissionais.

No entanto surge hoje uma nova alternativa de mostrar a verdade. Quando Mubarak, tomando como exemplo a revolta popular contra 30 anos de ditadura e corrupção no Egito, tentou impedir a comunicação da população descontente com o mundo censurando a internet e bloqueando também os celulares, medidas que em contrapartida acabam afetando a economia do país, não pode impedir que a engenhosidade de parte da população continuasse enviando mensagens e fotos dos acontecimentos.

A comunicação atual não dispensa o trabalho jornalístico, mas por outro torna a denúncia muito mais ampla. Mesmo sem a imprensa presente, há possibilidade  de qualquer cidadão comum enviar fotos e relatos para as redações do mundo todo, coisa impossível antes da Internet.

Esse fato deve aliviar o peso que sempre ficou concentrado nos ombros do profissional de imprensa. Prisões e ameaças tendem a ser mais raras. Mas ainda há muitos riscos. Segundo a "Repórteres sem Fronteiras", em 2010 um total de  504 meios de comunicação foram censurados e 535 pessoas que trabalham diretamente com mídia jornalística foram presas. Mais de 50 jornalistas foram vítimas de sequestro ou ameaçados e 127 foram forçados a sair do país de origem. Perto de 1.400 profissionais foram agredidos ou ameaçados. O país com maior número de fugas  foi o Irã: 30 jornalístas deixaram o país!


segunda-feira, fevereiro 14, 2011

PRÁTICA DA LEI TORNA-SE A CADA DIA MAIS DIFÍCIL

Imagine a situação mais prosaica: uma enorme fila de espera e você, em dado momento, sentindo a natural e inevitável necessidade fisiológica de urinar. Na situação emergencial, você corre em busca de um sanitário, mas ele está fechado.  Recorre aos funcionários, mas tem seu acesso negado aos demais sanitários, que seriam "exclusivos".  Não há como sair, não há tempo!

De prosaica, a situação acaba se transformando em um flagrante desrespeito ao cidadão, em um evidentre atentado à cidadania e à dignidade humana.  Pois isso aconteceu em uma agência bancária com um senhor idoso, que sem ter tempo de resolver a situação enfrentou uma situação constrangedora de urinar nas calças! Poderia ter acontecido com você ou com qualquer pessoa. Portanto a questão não pode ser considerada individual e trivial, mas sim uma situação exemplar de como os direitos do cidadão estão sendo vilipendiados pelo sistema.

Apesar de considerações sobre o avanço da legislação que protege o cidadão e tenta retomar a eficiência de medidas que revalorizem a cidadania - condição essencial para estabelecer a ordem social - a prática demonstra que os abusos aumentaram. O motivo é óbvio: leis são apenas apêndices sociais quando permanecem apenas no texto, sem atingir a prática. São pura retórica para alguns setores considerados sagrados pela economia...

De que adiantam avanços na legislação- como por exemplo o Código do Consumidor - se as denúncias são engavetadas e os infratores permanecem impunes? De que vale a lei "Maria da Penha", se os assassinatos de mulheres continuam acontecendo por impossibilidade de atuar com rigor sobre os agressores preventivamente? São apenas dois exemplos diferentes. Poderíamos citar aqui inúmeros outros exemplos que mostram um quadro de absoluto desrespeito às leis, cometidos principalmente por quem tem poder econômico e político e que facilmente transforma  o sistema judiciário em uma máquina inoperante.

Por outro lado, curiosamente, a Justiça está funcionando bem nas punições para quem tem débitos com grandes empresas ou instituições financeiras...as cobranças judiciais nunca foram tão eficientes! Paralelamente surgem métodos maquiavélicos para pressionar o cidadão comum - como listagens do Cadin, Serasa, SPC e até listas negras e misteriosas, que circulam em "off", criadas por grupos de grande poder financeiro e que incluem não apenas devedores, mas "personas non gratas", que ousaram abrir processos ou exigir direitos.

A esse "cerco" ao cidadão comum pode-se adicionar outra medida drástica: a Lei Estadual 10.710/00 determina que o envio de título a protesto em Cartórios nada custa ao credor. Nem depósito prévio é exigido! Tem sido uma festa! Mesmo porque se o suposto devedor não dever ele terá de ingressar com processo para reaver seus direitos e seu ressarcimento moral...o que vai levar alguns anos e muita dor de cabeça. Além de longo tempo com o nome comprometido.

Mas todo esse abuso e "largueza" de quem domina a economia e integra companhias de setores essenciais como a eletricidade - mantendo o "poder"de cortar a energia elétrica do cidadão, ou as Prefeituras e serviços  de fornecimento de água ( há municípios onde subiu absurdamente o numero de processos e leilões em ritmo acelerado em caso de atraso de IPTU) podem ser curiosamente resumidos ao episódio da crueldade de negar ao cliente que espera em longas filas o acesso ao banheiro!
Este não é apenas um direito previsto em lei, mas uma questão óbvia de respeito aos direitos humanos. No entanto pessoas usando sanitários significam papel, desinfetantes, uso de água e mão de obra para limpeza, custos que são previstos nos serviços e que já estão pagos pelo consumidor ou cliente.

Vai mal, o direito do cidadão. Avanços legais e éticos? Bem, teoricamente sim. Mas a prática demonstra que há um longo caminho a ser percorrido, dependendo apenas de um fator: força da justiça acima do tráfico de influência, ou do poder politico e financeiro. Quando vamos conseguir isso?  Será que os novos salários que a sociedade paga aos representantes no Congresso Nacional, Estados e Prefeituras vão finalmente permitir uma mudança neste cenário?...que não se resuma apenas aos sanitários, certamente.... (AC)

sábado, fevereiro 05, 2011

TORCIDA VIOLENTA

Torcedores se aglomeraram no centro de treinamento do Corinthians, apedrejaram o onibus que entrava com jogadores para o treino do jogo contra o Palmeiras nestas rodada do Campeonato Paulista e deixaram claro que não admitem a derrota do seu time, culpando o jogador Ronaldo Fenômeno pelo resultado da Taça Libertadores da América. Uma manifestação, entre tantas outras registradas nos últimos anos, que mostra claramente que o futebol pode provocar situações perigosas na união entre a aglomeração de pessoas e a frágil sustentação do controle sobre a violência. No momento desse tipo de manifestação tudo pode acontecer, como a reação de policiais além da medida de bombas de efeito moral e até ataques contra a imprensa, que é neutra e está simplesmente cumprindo o dever de registrar os fatos, mas acaba em risco como se estivesse em uma guerra sem regras éticas e legais.

A questão não é simplesmente a existência de grandes grupos da população com sua dedicação ao esporte. Ao longo dos anos os espetáculos de futebol centralizaram a expectativa de pessoas, desviando a atenção de outros problemas sociais e políticos, como a própria fase da ditadura, ocasião do grande investimento e da supervalorização do esporte, em contrapartida à tensão política . O futebol passou a ser o grande terapeuta do brasileiro, que descarregava dúvidas, tensões e repressão no espetáculo das disputas.


Nenhuma novidade, considerando que nos tempos do Império Romano  os imperadores dependiam do espetáculo das lutas de gladiadores e da distribuição do trigo para acalmar a massa e manter a ordem. Quanto mais a situação de revolta popular pela miséria se agravava, maior e mais sangrentos eram os espetáculos para a massa. Em 107 AC  o imperador Trajano ficou conhecido por proporcionar  espetáculos onde cristãos eram devorados por leões ou esmagados por elefantes e pela reunião de 10 mil homens para
duelos!

O futebol de antes mostrava que o clima tenso ficava dentro da disputa, aumentando conforme a atenção popular, os torcedores e os altos salários disparavam. Essa  gradativa perda do limite foi verificada em campo há muito tempo. Como exemplo podemos citar a violência do campeonato carioca de 1951, quando Didi fraturou a perna do zagueiro do  Bangú, Mendonça.

Hoje a situação de risco se avolumou e se descontrola . O risco está na massa que forma a platéia das arenas ou em torno delas. No campo jogadores cometem faltas maliciosas e violentas, dirigentes brigam contra árbitros, torcedores jogam objetos no time oposto  e agridem policiais e outros torcedores. Nas ruas os torcedores se transformam em gangues e centralizam agressões em torcedores de outros times, em linchamentos absurdos, enquanto os policiais perdem o controle e usam armas, chegando a matar cidadãos que estão sugestionados pela força de suas torcidas. Um fenômeno que não se resume ao Brasil. Infelizmente, um indício de que a agressividade humana não é mais controlada com eficiência no apêgo exagerado da necessidade do cidadão comum pela supremacia de um time de futebol. (AC)

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

DIVÓRCIO EXPRESSO

A quantidade de casais que se divorciaram em 2010 dobrou em relação ao ano anterior em São Paulo. Suspeita-se que seja apenas um "represamento" de casamentos que já estavam aguardando a tramitação dos processos e que com a nova lei finalmente se efetivaram. Afinal agora é possível acabar com o casamento, oficialmente, de maneira rápida e prática, como convém aos novos tempos, desde que ambos estejam em pleno acordo e sem problemas como a definição da guarda dos filhos e alimentos a serem arbitrados, em um mesmo dia!

É o "divórcio a jato"! No cartório, sem homologação judicial. A vantagem é que ajuda a desobstruir o sistema judiciário e o acúmulo de processos na Vara Cível; a desvantagem é que banaliza o compromisso. Ainda que a ausência da burocracia e da tortura  das audiências seja interessante, a nova lei permite o famoso e bem humorado casamento à moda de Las Vegas, a cidade americana que ganhou notoriedade mundial pelos cassinos, pela fartura das luzes e pelos casamentos desburocratizados.

Talvez haja exagero na opinião que afirma que o mesmo casamento que se desfaz com facilidade é aquele que se concretiza com pouca prudência. Mas a dificuldade em romper a união é sem dúvida um fator importante na decisão do rompimento da sociedade conjugal, mesmo em tempos onde o reconhecimento de união estável dispensa a formalidade do casamento. Ainda assim as estatísticas demonstram que os casamentos ainda superam - e muito - os divórcios: mais de cinco vezes. 

quinta-feira, fevereiro 03, 2011

OBESIDADE DISCRIMINADA

As pessoas com excesso de peso estão em desvantagem no mercado de trabalho. A discriminação, que antes era velada e ocorria em menor percentual, aumentou a ponto de interferir não apenas em empresas com cargos que supostamente exigiriam maior condicionamento físico, mas também entre concursados de empresas públicas e do governo de São Paulo. Mesmo com excelente colocação nos concursos, candidatos a professores estariam sendo eliminados pela perícia por estarem acima do peso, mesmo apresentando um quadro geral de saúde muito bom.

A obesidade cresce no mundo todo (de acordo com a OMS existem um bilhão de pessoas estariam nessa condição), alerta para uma questão que envolve a saúde pública e também o preconceito contra quem acumula muitos quilos excedentes.  O argumento é de que obesos são mais lentos e sofrem risco maior de enfrentar doenças como diabetes, alto colesterol e problemas cardíacos, prejudicando a produtividade das empresas.

Obesidade reprova candidatos! E este cerco aos gordos parece cada vez mais preocupante. Já correm processos na Justiça a respeito da discriminação, evidente quando um candidato consegue o primeiro lugar em um concurso e acaba preterido por ser gordo.

O fato acaba repercutindo em toda a sociedade e atingindo intensamente crianças e adolescentes, que sofrem   também com discriminação quando são gordos. São as gerações criadas com a alimentação industrializada, com excesso de açúcar e gorduras, pouca atividade física e poucas horas de sono.

Logicamente querer reverter o quadro das populações obesas é não só aceitavel como necessário. O que não se pode é permitir a discriminação, seja na escola, seja no trabalho ou em qualquer outra circunstância. Paises do mundo todo estão realizando campanhas educativas e oferecendo apoio para uma maior qualidade na alimentação, mas esse é um processo demorado. A orientação para gestantes e pais é fundamental, da mesma forma que a merenda nas escolas, que nem sempre contém qualidade alimentar, mas sim excesso de calorias.


O problema aqui não é apenas para a população de baixa renda. Escolas particulares oferecem lanches com alto teor de gordura saturada e amido, que aliados ao consumo excessivo de refrigerantes e doces estão aumentando as estatísticas da obesidade e da diabetes - mesmo em crianças e adolescentes não obesos. Em casa a rotina repete alimentos calóricos e de poucas fibras.

Arquivo do blog