sexta-feira, outubro 28, 2011

MACONHA, VIOLÊNCIA E A USP

A questão não é legalizar ou criminalizar a maconha mas sim entender o processo social que leva um grupo de estudantes universitários a promover uma verdadeira batalha dentro de um campus para confrontar policiais que haviam prendido três pessoas que portavam a droga. Isso aconteceu na noite passada na USP e a pergunta é a seguinte: se a lei determina que sejan detidos aqueles que portam drogas, a polícia agiu corretamente? E os estudantes que se acharam no direito de reagir, mesmo sem respaldo legal ou argumento aceitável?
Essa situação mostra bem a confusão ética e moral do cidadão. Há outras, exemplares. Por exemplo, a cara de pau de um rapaz de 19 anos que em entrevista à um telejornal declarou categoricamente que as leis que determinam proibição de bebidas após as 22 horas e consideram delito grave dirigir alcoolizado não impedem coisa alguma. Mesmo porque há sempre " um jeitinho" de beber e dirigir depois, seja qual for o nível de embriaguez. Nossa sociedade não cria leis, cria mitos!
Drogas como a maconha de fato não são exceção em ambientes universitários. Mas o que em tempos passados funcionava de maneira discreta e aparentemente sem agressão ao meio, hoje ganha contornos perigosos, com a crescente violência do tráfico e o retorno desses imensos recursos movimentados pela droga na forma de um verdadeiro arsenal de armamentos que acabam ameaçando o próprio cidadão que fumou seu baseado achando que isso dizia respeito apenas a uma opção pessoal.
Esse é o núcleo fervilhante da questão: até que ponto a liberdade individual é ética, no confronto de resultados que afetam o semelhante ou o conjunto social. Para que o ladrão de galinhas ou o assaltante cruel sejam controlados, é preciso que haja senso de Justiça e respeito às instituições que preservam a segurança do cidadão. Consciência da cidadania não é opcional, é sobrevivência!
A bagunça dos estudantes na USP não pode ser considerada um direito individual ou um consenso simplesmente porque invadiu o direito comum e tentou desmoralizar leis e ações de segurança criadas e apoiadas constitucionalmente.
Uma coisa é defender a descriminalização da maconha ou defender seu consumo, outra é tornar o ambiente já sobrecarregado pela violência ainda mais inseguro. Os problemas mais urgentes do desequilíbrio social passam, obrigatoriamente, pela questão ética, que está perdida na profusão de informação e conflitos.

quinta-feira, outubro 20, 2011

A ÉTICA EM CRISE NA MEDICINA

"(...) fui maltratada e fiquei chocada com os médicos que tratam a gente como se gente fosse objeto descartavel (...)é terrivel viver em um mundo onde não se pode confiar nem em medicos(...)" (Yeda VN)
"Esperei por atendimento por mais de uma hora em hospital particular com convênio (...)É tanta gente amontoada que parece o Sus mas a qualidade do médicos é pior(...)que garantia a gente tem de que não ai sair de lá pior do que entrou?" (Boris -SP)
As reclamações da qualidade do atendimento na saúde tem sido fartas. O motivo vai desde a má qualificação do profissional até condições de trabalho e salário que ele considera injustas. Neste caso quem sofre é o paciente. Denunciar a situação é fundamental, se possível enviando relato do ocorrido para o Conselho de Medicina. 
Yêda, a sociedade pode ter mudado, o sistema torna-se cada vez mais mecanizado, mas ainda existem regras e leis, que podem ser acionadas a qualquer momento, não importando se o seu atendimento é feito em consultório particular, clinicas ou hospitais públicos e postos de saúde. A responsabilidade ética e a capacidade profissional de médicos é a mesma em qualquer tipo de atendimento. Na verdade um médico se compromete a atender um necessitado em qualquer lugar, antes de pensar em honorários profissionais. Esta é uma profissão onde a responsabilidade não pode ser negligenciada em hipótese alguma.
No seu caso (em nos outros que relatou ter presenciado) há motivos de sobra para encaminhamento de uma denúncia ao Cremesp - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (http://www.cremesp.org.br/) .
Lembre-se que para o Cremesp, assim como para toda a categoria médica, é importante punir médicos que não cumprem com sua função e prejudicam os profissionais que atuam com qualidade. E entre tantas regras éticas, a mais importante delas é, sem dúvida, um atendimento decente e que garanta a saúde do paciente. 
Houve um aumento de profissionais desqualificados no mercado. Grande parte dos médicos que se formam hoje não encontram meios de aperfeiçoar os conhecimentos e não cumprem com a residência médica mínima. 
Em sete anos, o número de médicos denunciados no Cremesp aumentou 75% e o número de processos em andamento cresceu 120%.
O próprio Conselho estimula a denúncia de maus profissionais. "O médico, ao exercer sua profissão deve, em obediência a princípios éticos norteadores de sua atividade, zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão", diz um trecho do texto de "Considerações sobre a responsabilidade médica - Imperícia, Imprudência e Negligência", publicado pela entidade. 
Para encaminhar a sua denúncia, faça por escrito, relatando o ocorrido e a ação do médico (ou médicos), nome do profissional e CRM (Esses dados podem ser obtidos no receituário ou junto ao hospital). Faça em duas vias. Se for entregar pessoalmente, exija protocolo na segunda via e guarde o documento. Se for via correio, envie apenas uma via (guarde a outra) no sistema AR (aviso de recebimento) e anexe o recibo de entrega à segunda via que ficará com você como comprovante da denúncia.
O endereço é o seguinte: Rua da Consolação, 753 - Centro - São Paulo - SP - 01301-910. Há uma central de atendimento (11) 5908-5600 , no horário das 8 horas as 20 horas. Pode reforçar a denúncia enviando à corredoria da Cremesp outra via ou realizando o contato via internet: 

quinta-feira, outubro 06, 2011

DITADURA DOS PROTOCOLOS

A cena é a seguinte: em uma avenida policiais separam mãe e filha, um bebê de um ano e dois meses, após denúncia de que a mulher estaria pedindo esmolas e utilizando a crianca como chamariz.
O momento é traumático, com mãe e bebê aos prantos e berros. Por fim a criança é arrancada dos bracos da mulher e levada em uma viatura policial para um abrigo.
A questão é complicada. Deixar que uma criança seja usada para angariar esmolas é inadmissível e absolutamente contrário à lei. No entanto usar desse tipo de violência - arrancar o pequeno dos bracos da mãe - também é condenável.
Vivemos uma crise de valores tão grande, que os limites entre o certo e o errado estão ficando confusos. Para evitar danos psicológicos ao bebê a justiça acabou cometendo outro ato traumático, que sem dúvida rendeu um transtorno para a criança. Seria muito mais fácil recolher mãe e filha até o abrigo, acalmar o bebê e então levar a mulher para a delegacia.
Mas não temos tempo nem expediente para evitar os erros que tentam punir outros erros e infrações.

Vivemos a "era do protocolo". Que é isso? É um tipo de comportamento padrão que facilita o atendimento em diferentes setores, mas acaba distorcendo e trazendo muitos prejuizos que tornam o sistema inoperante, ou seja, não resolve muita coisa não...
Protocolos são uma verdadeira praga, pois querem simplificar o que é complicado justamente pela sua diversidade.
Não podemos nivelar a tudo e a todos. Na medicina o protocolo de médicos leva pessoas a ingerir medicamentos desnecessários ao seu caso individual. Se uma criança chega com a garganta irritada, ela terá receitado os mesmos antibióticos de outra com patologia mais grave. Mas por que? Porque é esse o "protocolo" do pediatra!
Na dúvida, todos recebemos tratamento padrão. Isso é ruim para quem poderia vencer o problema apenas com boa alimentação e acompanhamento? É sim! Então por que receitar antibióticos desnecessários? Como garantia em "caso contrário"! Esse é o protocolo!
E por ai vai. Na área de saúde ou na burocracia de repartições públicas, na educacão, na Justica, em todo canto! Aprendemos a não questionar situações burocráticas irreais e lesivas ao meio ou ao indivíduo, porque isso é " normal". Mesmo que um advogado desonesto se valha da honestidade de outros colegas profissionais e não dê satisfação de pormenores de processos - inclusive, digamos, recebimentos de compensações financeiras ou multas que vão para sua conta e  não são comunicados ao cliente, ele acaba sem punição porque não há denúncias. E não há denúncias porque isso é "normal" ou integra um protocolo da relação entre a sociedade e aqueles que se arvoram a trabalhar em sua defesa.
 É a praga do modelo pré-fabricado que deve caber em todos os manequins! O que ninguém explica é como pode um modelo único de comportamento ou atendimento servir para tamanha diversidade de situações!
A conclusão a que se chega é a de que nossa sociedade é regida por robôs, programados (e mal programados em muitos casos) e sem a autonomia profissional e o bom senso que permitem a necessária adaptação de regras e leis ao caso em questão! O resultado é uma " eterna monografia" de fim de curso, que segue tão rigidamente as regras a ponto de ser sempre absolutamente igual. Ou seja, não prova capacitação, mas apenas adaptacão ao padrão!
Conhecimento limitado e enquadrado e ações idênticas para situacões diferenciadas?
Essa nossa crise de criatividade e conhecimento mostra o risco do índice da mediocridade social. Em nada beneficia o controle da violência e os desafios que ameaçam a sociedade. Pelo contrário, perpetua os erros e aumenta a dor de cabeça do cidadão. Protocolos deveriam ater-se a sua função documental e não serem alçados à condição de ditadores comportamentais.

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