segunda-feira, abril 11, 2011

ESCOLAS E VULNERABILIDADE À VIOLÊNCIA

Motivos fúteis originam atos violentos,
que antes seriam rigorosamente punidos,
mas hoje são "admitidos"pela
inoperância da lei e de uma mentalidade
mundial de "Vale-Tudo"
 Ainda em choque por causa da tragédia no Rio de Janeiro, com a morte de 12 crianças por um atirador que havia sido aluno no mesmo estabelecimento, autoridades e pais consideraram a importância de criar mecanismos de segurança nas escolas. A medida de fato é importante - estudantes em todos os níveis e de diferentes áreas sofrem com ameaças constantes, inclusive de traficantes que tentam aliciar crianças e adolescentes. No entanto tornar a escola um forte equipado para um estado de guerra urbana não vai resolver um problema que precisa de estratégias criadas na própria sociedade e no sistema educativo.

Paises que convivem com esse tipo de violência - a de atiradores que buscam vítimas dentro de estabelecimentos escolares - como os Estados Unidos, onde a ocorrência é comum, aprenderam que não basta cercar de grades uma escola. Atiradores que buscam vitimas entre professores e estudantes, de pré-escolas a faculdades, são pessoas com graves patologias, em geral psicopatias. A maioria deles frequentou o mesmo estabelecimento que agridem. No caso de Realengo, Wellington Oliveira entrou na escola pela porta da frente, indo até a primeria sala e conversando com a professora, segundos antes de sacar as armas e começar a atirar nas crianças.

A violência virtual, nos jogos e no cinema, não
pode ser considerada inofensiva, segundo os
especialistas. Muito pelo contrário.
Assim como em outros casos de atiradores nos EUA, Wellington planejou o massacre, disposto a não sobreviver depois da ação. Aos 23 anos, introvertido, com problemas de comportamento não avaliados, recentemente desempregado e vivendo sem a família, certamente mantinha com a antiga escola uma relação frustada, que sustentava a sensação de fracasso. Especular em torno dos motivos não é tão importante quanto o fato de que essa ação difícilmente poderia ter sido evitada, pois foi absolutamente inesperada.

Não temos mecanismos para lidar com o inesperado, a não ser que todos os riscos possíveis e imagináveis sejam estudados e previstos. O que pode acontecer de ruim dentro de uma escola? Brigas de alunos, humilhação aos mais frágeis, agressividade com professores, drogas e traficantes. Tudo isso deve ser trabalhado.

A segurança deve existir do lado de fora dos portões das escolas. Dentro delas a ordem precisa ser mantida com estratégias educacionais, que resgatem o ambiente que toda escola deve ter. O episódio de Realengo não pode interferir nesse objetivo, pois é nele que se encontram as alternativas para um ambiente mais equilibrado, que resgate os valores e a razão de ser da escola.

A tolerância a crimes considerados "menores", como crimes
de colarinho branco, crimes contra o consumidor e erros
da máquina judiciária baixa a auto-estima social e
incentiva a criminalidade e a violência em todos os níveis
No entanto querer que a escola seja um oasis em meio a uma sociedade violenta é talvez exagerar na sua potencialidade. Afinal um estabelecimento educacional é o reflexo do meio. Não há como permanecer imune diante da desagregação familiar e do aumento da violência. Os valores perdidos no cotidiano adquirem força cultural e não sobrevivem em uma sala de aula com facilidade.

Apesar do temperamento brasileiro ser pacífico, mantendo um padrão de confraternização com o meio muito significativo, a pressão para a decadência de valores e padrões éticos enfraquece e permite o avanço contínuo da violência. No entanto também permite que haja uma retomada, caso sejam tomadas ações simultâneas. Um exemplo é a policia pacificadora nos morros antes dominados pelo tráfico no Rio de Janeiro, onde uma ação firme e determinada obteve pleno apoio popular.

O mesmo espírito de determinação pode ser aplicado em relação ao ambiente escolar, de maneira simultânea a campanhas maciças para reaver o respeito à cidadania e a uma Justiça mais atuante, de forma a restabelecer a ordem a partir de sua origem. Assim como ações firmes conseguiram o que parecia impossível - desalojar o poder dos traficantes nos morros - também a firmeza da Justiça na punição de crimes que zombam das leis, como atos violentos no trânsito, falcatruas no comércio, crimes de colarinho branco, crimes na família, como agressões a crianças e outros que permanecem impunes por inoperância de nosso sistema, podem resgatar a dignidade da cidadão e permitir a redução da violência, tornando as escolas mais seguras.

Isoladamente porém, nada será eficiente. É preciso mudar a mentalidade superficial que torna a vida descartável.

2 comentários:

  1. José Américo4/12/2011 1:39 PM

    "um forte equipado para um estado de guerra urbana"

    Nem tanto, Mirna, mas regras básicas de segurança deveriam ser exercidas após um preparo correto dos funcionários e alunos.

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  2. Helena Andrade Gusmão4/12/2011 2:10 PM

    Como professora há 21 anos posso dizer que o problema não é a escola mas sim a sociedade onde sobrevive o sistema educacional.Não adianta acharmos que basta investir no prédio e em equipamento de segurança.Precisamos do equipamento de segurança,mas também de uma sociedade mais consciente e uma comunidade mais participante,precisamos de programas que revalorizem a famlia como instituição primeira na sociedade.A Educação e seu sistema vão melhorar a partir disso.A colocação do artigo de vocês é excelente e pretendo reproduzi-lo em classe de aula,obrigada.

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