quarta-feira, fevereiro 23, 2011

AUTORIDADES CULPAM "VAZAMENTO" NO CASO DE ABUSO CONTRA ESCRIVÃ


A  corregedora geral da Polícia Civil, Maria Inês Trefiglio Valente, declarou que o desnudamento da escrivã  foi "uma atitude que o delegado tinha de tomar para pegar a prova".  A declaração repercutiu negativamente, pois abre precedente para o desrespeito à lei  e banaliza o direito de preservação da dignidade. "Ele tomou a atitude que tinha que tomar para pegar a prova", declarou Valente.
Uma declaração desastrada.  A idéia de que uma autoridade policial ganha o direito da onipotência sobre um suspeito, decidindo inclusive ignorar a lei, remonta os tempos dramáticos da ditadura. Em um ambiente que trabalha em benefício da justiça - e este é o caso das delegacias de polícia - a ávida batalha para desmacarar aqueles que burlam a lei deve preservar antes de mais nada os direitos legais do cidadão! Como exigir respeito à lei se a própria autoridade polícial a despreza?
Policiais sofrem, ninguém duvida disso. Enfrentam enorme burocracia, atendem inúmeras ocorrências, correm risco nas investigações ou nos confrontos.  Ganham mal - principalmente em São Paulo, o que é uma contradição e sofrem de problemas de saúde decorrentes do estresse profissional.  Mas existe o outro lado da moeda: nem sempre conseguem manter uma relação com a comunidade,  que têm medo da polícia mesmo quando não é marginal! Nem sempre observam limites de atuação, conforme mostram denúncias e gravações onde a violência parte do policial.
A corrupção deve ser combatida e o trabalho das Corregedorias é extremamente importante! Mas não tem cabimento arrancar calças e cuecas de suspeitos ou cometer qualquer outro abuso que desmereça a mesma dignidade da lei que se pretende preservar!
O governador Geraldo Alckmin criticou o vazamento do vídeo que mostra a violência a que foi submetida a ex-escrivã . Deveria ter criticado abuso em si, pois não há argumentos que justifiquem a ação  da corregedoria. Mesmo porque as notas, falsas ou não, que estariam "escondidas na calcinha da suspeita", não eram relevantes para um processo e punição, pois segundo os delegados já havia um denunciante e portanto outras maneiras do crime ser apurado.
Mesmo assim, diante dessa situação drástica, Maria Inês Valente  declarou que um inquérito foi aberto  na ocasião. “O promotor diz que não houve crime e não houve elemento subjetivo para crime de abuso. Os promotores do Gaeco se manifestaram da mesma forma. O Judiciário disse que eles usaram a força adequada”, explicou. Por isso o inquérito foi arquivado em janeiro de 2010. 
Essa insistência em minimizar o ato apenas torna o cidadão mais desconfiado e temeroso da instituição policial, que deve ser norteado pelo bom senso e pela rigidez da lei, pois é para isso que existe e é mantido.

O QUE DIZ A EX-ESCRIVÃ

Em entrevista à imprensa a ex-escrivã disse que o ocorrido mudou sua vida. "Foi a pior humilhação" declarou,  "Como profissional fui desrespeitada, como mulher fui violada e humilhada". 
Segundo ela, no dia do ocorrido cerca de nove homens  entraram no Cartório da delegacia e a levaram para outra sala, onde foi algemada e despida apesar de ter pedido repetidas vezes que queria ser revistada por policiais mulheres. 
"Não quero mais sair de casa, não quero ver as pessoas, não quero mais nada" diz a ex-escrivã.
O Sindicato dos Delegados de Polícia manifestou-se criticando a atitude dos policiais envolvidos. 


2 comentários:

  1. Existe abuso de autoridade e a gente vê a comprovação disso nas palavras da corregedora e do governador Alckmin que falam como se isso fosse normal desde que ninguém saiba...vamos mal

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  2. bandido de um lado,abuso e hipocrisia das autoridades de outro....estamos perdidos...como recuperar a confiança?...

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