É surpreendente constatar que o último reduto da sociedade humana onde o objetivo é curar transforma-se também em agente agressor: um paciente do hospital Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, levou um soco de um segurança, bateu a cabeça e morreu, ao sofrer traumatismo craniano.
Para entender esse absurdo é preciso considerar a perda de noção da realidade das pessoas que trabalham em instituições, como a Saúde. A base desse conflito começa no desrespeito à própria razão de ser dessa instituição.
Hospitais existem com qual finalidade? Nas últimas décadas toda e qualquer atividade foi direcionada para o lucro. Saúde e educação não escaparam à comercialização, apesar da contradição. Vidas humanas não podem ser negociadas. E no entanto aconteceu desde os anos 80 uma verdadeira investida no sentido de enfraquecer o atendimento público à saúde, com incentivo absurdo para a multiplicação de hospitais e clinicas particulares, que contou com apoio de leis de nosso Congresso.
O que temos hoje é um atendimento deficiente nos hospitais públicos. O que não quer dizer que hospitais particulares garantam a qualidade, muito pelo contrário!
Com a massificação dos planos de saúde, a maioria dos hospitais, clinicas e laboratórios recebem uma quantidade imensa de pacientes. Lucra-se - e muito - pela quantidade, o que certamente compromete a qualidade do atendimento.
Tanto isso é verdade que marcações de exames e consultas particulares e com base nos convênios e planos de saúde demoram tanto ou até mais do que em parte dos atendimentos da rede pública. Uma consulta com especialistas diversos pode chegar a uma espera que vai de 15 dias até dois meses. Uma intervenção cirúrgica é adiada muitas vezes sem o paciente saber o motivo, que é a capacidade esgotada no atendimento. Exames importantes, que poderiam salvar vidas ou reduzir gravidade de doenças preventivamente, também podem levar 30 a 60 dias para se obter uma vaga.
A situação exaspera o cidadão. No caso do hospital Nossa Senhora de Lourdes o paciente reivindicava um direito, o de ser devidamente informado a respeito de qualquer mudança em horário ou local de exame, depois de manter o pagamento de seu plano de saúde há uma década.
Discutir com os atendentes foi a sua sentença de morte. É bom lembrar que não importa se ele exagerou em sua indignação e irritou funcionários: jamais poderia haver uma agressão ao paciente ou qualquer pessoa pela segurança!
Questões como esta precisam ser revistas urgentemente, no sentido de recuperar a responsabilidade de médicos, enfermeiros, atendentes, seguranças e qualquer outro funcionário de instituições de saúde, que existem justamente para preservar a vida do cidadão, que não pode ser "descartado" como uma peça inconveniente de um sistema defeituoso.
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