O "território livre" da internet, nos sites de relacionamento, começa a ser controlado e em breve poderá limitar a comunicação dos internautas.
Pelo menos é o que está sendo discutido nas redes sociais, onde o sonho de navegar sem limites, entre a liberdade responsável e o abuso do anonimato, vem entrando em conflito com medidas que pretendem garantir segurança, mas que terminam invadindo a privacidade do indivíduo e controlando o conteúdo partilhado nesses espaços.
Uma das novidades é a intenção de um dos maiores sites de relacionamento, o Facebook, de "detectar notícias falsas", adicionando a elas um selo de segurança que vai desestimular a leitura e colocar na "geladeira" (fora da visão no feed) posts considerados maliciosos.
Lamentável! Mesmo porque noticias falsas ou manipuladas não são um artifício encontrado apenas em sites de relacionamento, mas também na mídia que explora rádios, televisão, jornais e revistas.
Por que seria tão dramático para a livre expressão a "detectação de noticias falsas"?
Há dois sérios riscos nessa medida. Primeiro, a interpretação do que seria falso ou impróprio, que fica a cargo de uma misteriosa estratégia do site, onde uma equipe se propõe a rastrear milhares e milhares de postagens que poderiam, em tese, vir de sites maliciosos e espalhar-se na rede como fungos em pão embolorado.
Segundo risco: o uso desse mesmo artifício, para controlar não apenas sites maliciosos, mas qualquer postagem "non grata", ainda que verídica, com qualidade informativa, mas desagradável ao sistema, seja ele do próprio Facebook, seja das pressões exercidas sobre ele.
Em resumo, a pessoa que tem seu perfil no Facebook (e em outros sites de relacionamento, sem grandes exceções) é monitorada não apenas recebendo posts que o sistema do site considera relevante para ela e excluindo outros, sendo bombardeada com anúncios que também são direcionados com base em sua privacidade invadida ( o Facebook sabe tudo do internauta, assim como o Google e todos os aplicativos que você instala), mas vai ficar sob a tutela do site, que decidirá o que ela pode ver ou publicar.
Em tempos onde o cidadão se considera uma vítima da repressão política, midiática e judiciária, essa ação "colaborativa" de um site de relacionamento como o Facebook é extremamente preocupante e desestimulante para o usuário, que usa esse tipo de recurso justamente para relacionar-se. E relacionar-se sob supervisão ou limitação do site derruba toda a expectativa de liberdade de expressão tão necessária para qualquer atividade humana.
Patrulhar noticias equivale a considerar o internauta incapaz de estabelecer os limites de sua consciência em relação aos acontecimento de sua vida.
Há notícias falsas no Facebook?
Obviamente que sim.
O mundo virtual carrega consigo as mesmas características do mundo imediato, trazendo todas as qualidades e defeitos de seus participantes.
Ao invés de considerar-se o proprietário da expressão de seus usuários, o Facebook e todos os sites de empresas de serviço online e software, deveriam colaborar com as regras que criam os limites éticos no mundo virtual, responsabilizando juridicamente os autores os abusos e crimes virtuais. Não há diferença entre crimes cometidos dentro e fora da internet: são todos crimes ou abusos que podem ser regidos por leis e pelos mesmos tribunais.
Veiculação de notícias falsas nem sempre são feitas maliciosamente, mas os danos acarretados pela má informação podem perigosos. É preciso diferenciar a gravidade na origem. Esse novo sistema de rastreamento do Facebook pode ser muito útil para definir essa origem e para que a Justiça determine se de fato há má fé.
Mas tomar para si a interpretação do que é certo ou errado, entre mais de 1,5 bilhão de usuários (apenas no Brasil são quase cem milhões de pessoas que postam no Facebook) pode ser um risco para a liberdade exigida pelo internauta. Um selo pode ser até admissível, mas o controle das postagens, sua supressão ou a redução de sua circulação, sem notificação ao autor, já envolve questões de ofensa moral e abuso. Do próprio site ao usuário!
MIRNABLOG analisa os acontecimentos e discute as dúvidas com imparcialidade, respeitando a sua inteligência
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