Levou muito tempo para que leis e fiscalização acabassem com uma das mais absurdas ações na área de atendimento médico hospitalar em urgências e emergências: a imposição de pagamento antecipado pelos hospitais. A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que torna crime essa exigência. O problema passou a ser seriamente discutido desde o começo deste ano, quando o secretario de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva Ferreira, morreu após ter tido o atendimento negado em dois hospitais de Brasília, segundo seus familiares, que afirmaram ainda que a internação dependeria da apresentação de um cheque caução.
Quantas pessoas já não morreram assim, em hospitais de todo o país? A norma é garantir o lucro, mesmo em hospitais que recebem ajuda financeira do governo federal. Quer dizer, o próprio hospital deixa de servir ao seu propósito, que não é negociar, mas salvar vidas.
É preciso criar leis rígidas que garantam o exercício da ética em setores que lidam com a vida humana. Um hospital particular não pode recusar um atendimento de emergência ou retardar esse atendimento com exigências de garantias de pagamento!
Há risco de prejuizo? Sem dúvida que há! Mas hospitais não são empresas destinadas ao lucro! De onde surgiu a ideia de que é preciso lucrar com a vida humana?
Essa mesma mentalidade, a de que a saúde e a vida podem prometer grandes lucros financeiros, está presente no estudante que cursa medicina.Aliás, manter faculdades de medicina é lucro certo e o alto custo das mensalidades, em torno de até oito salários mínimos, é justificada com a explicação de que no futuro o estudante irá enriquecer rapidamente.
Lidar com a vida humana é lucro certo! Clinicas multiplicam-se como formigas, voltadas para a obtenção do dinheiro fácil! Planos de saúde movimentam bilhões, mesmo com falhas absurdas!
Como chegamos nisso, não se sabe exatamente. Em algum espaço entre a figura do médico sério e dedicado e a dos lobbies do ensino particular, o conceito de respeito à vida ficou perdido. Ao mesmo tempo, a qualidade do atendimento, tanto do profissional de medicina quanto de clinicas e hospitais, degradou-se extraordinariamente.
Com a criminalização da recusa do atendimento ou a exigência de formulários preenchidos ou cheques caução para que isso ocorra, é provável que haja uma reabilitação de um setor que perdeu a principal função, que é salvar vidas! E quem sabe reabilitar a função do profissional de medicina, que não pode ver o sofrimento humano como um filão lucrativo.
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