segunda-feira, setembro 12, 2011

POLÍTICA COMPLICADA


"(...) É muito difícil saber quem é quem na política (...) muitas vezes meus alunos me perguntam detalhes do meio político e dos partidos, decisões da justiça e dos nossos legisladores no Congresso Nacional (...) e torna-se extremamente delicada qualquer resposta(...) (Marcia H.M)
Márcia, você tocou em uma questão extremamente importante. O brasileiro não possui qualquer orientação para desenvolver uma capacidade crítica da política. E sem isso, torna-se muito mais sujeito a manipulações (política envolve estratégias de conquista, não é assim?) e aos enganos. Não apenas na hora de votar, mas também de acompanhar e analisar a atuação de seus representantes.
Você sugere que seja inserida disciplina de ciências políticas desde o primeiro grau e que como professora de História acha que a sua área deveria ter uma especialização para essa finalidade.
Bem, provavelmente você tem razão. O que temos hoje nas escolas, quando o assunto é política? A opinião pessoal de professores de diferentes áreas, que colocam em geral preferências partidárias e não permitem, necessariamente, que a informação ampla seja colocada e "digerida", para um resultado mais imparcial.
O que necessitamos não é a imposição de modelos políticos ou de paixões politico-partidárias nas escolas. Em mais de uma ocasião recebemos aqui denúncias de pais que reclamavam de professores - de universidades, mas principalmente de cursinhos pré-vestibulares (que reúnem jovens em idade de voto e com natural desconhecimento dos fatos políticos) que impunham a sua visão política aos alunos, fosse ela ditatorial, facista ou socialista. A importância do professor na formação das idéias e do livre pensamento, além do crivo crítico, é indiscutível! Mas é preciso entender que sua função é ensinar o aluno a pensar e não transmitir uma opinião ideológica .
Um professor que usa a sala de aula de um cursinho para fazer campanha política comete um erro ético grave. No entanto, é preciso discutir politica sim. E, concordo com você, Márcia, política se aprende desde muito cedo. Mas uma coisa é aprender o que é ideologia, como acompanhar política, em que consistem trabalhos do Executivo e do Legislativo. Outra é a imposição de ideologias ou a existência de campanhas de cunho partidário nos bancos escolares.
Durante o período de ditadura as escolas brasileiras ministravam disciplina de Educação Moral e Cívica. Uma disciplina com conteúdo considerado doutrinador e que no entanto, em âmbito de discussão de sua orientação, transformava-se em estímulo para o senso crítico. Mas ainda assim a geração educada no período mantém hoje idéias dessa cartilha e guarda uma idéia romântica da ditadura.
Seja como for, o resultado do ensino durante décadas desse disciplina cívica e posteriormente do mais absoluto desprezo pela educação política, na fase da abertura e instauração da democracia até os nossos dias, não é muito animador. A esmagadora maioria de adultos e jovens não têm argumentos lógicos para suas opções politico-partidárias no momento do voto e elegem os candidatos por falta de opção. A diversidade de informação pela internet e até as "brigas" no campo virtual ajudam a mostrar  que política é coisa séria e depende da análise e acompanhamento de cada eleitor, para evitar um "nó" na interpretação do que seria importante para o país. Mas ainda estamos distantes de considerar o brasileiro politizado. Ainda há muita manipulação e estragos terríveis, que transformam o voto consciente em um produto de compra e venda.
Uma situação que pode interessar a grupos habituados à um sistema sem controle e onde não faltam o tráfico de influência, ação desonesta e abusiva de lobbies, contratos superfaturados de obras públicas e outras formas de corrupção. Uma das ações mais comuns e danosas tem sido a tentativa de criar um " ambiente de guerra" ideológica, onde fatos fundamentados, mas também distorcidos, são usados para angariar votos, sem que haja mérito real ou acesso a dados reais, o que confunde o cidadão.

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