“Fui vítima de erro de um dentista que não deveria ter permissão para exercer a odontologia e de uma empresa de implante desonesta, chamada Imbra, perdi 30% de minha mastigação(...) Vou passar os próximos dez , vinte anos esperando a Justiça definir meu processo(...) e enquanto isso o sujeito vai fazendo mais vitimas?” (O.L.B)
"(...)O médico insistiu para esperar um amigo dele anestesista e a apendicite supurou (...)Ficou uma enorme cicatriz e passei duas semanas no hospital tomando antibióticos e montes de medicação(...) rendeu uma gastrite(...)O processo não deu em nada, tá parado em alguma prateleira da Justiça há mais de seis anos(...)" (Bernadete-MG)
O assunto é tão polêmico, quanto pouco conscientizado. Quando se fala em capacitação profissional a referência direta é a responsabilidade social e não apenas direito individual. De maneira indireta, estaríamos falando em ética.
Incapacidade ou falta de preparo profissional é tão ruim quanto o exercício da profissão por pessoas não credenciadas. É um problema muito sério, que realmente agride a sociedade, ainda que tenha sua origem na própria mentalidade da comunidade, com o desleixo pela qualidade no ensino e a falta de fiscalização rigorosa em profissões de risco, como medicina, odontologia e engenharia, entre tantas outras !
Profissionais ruins e de formação duvidosa que invadem o mercado seriam responsabilidade de quem? É preciso reconhecer que a multiplicação de escolas e universidades privadas tem como objetivo principal o lucro. O ensino não é interpretado como direito do indivíduo, interligado ao contexto social e à sobrevivência do meio, mas como fonte de dinheiro, um comércio. E como todo comércio, está sujeito a pressões que nem sempre consideram a qualidade. Esta situação foi criada pelo próprio Congresso, em leis e emendas aprovadas desde os anos 70, com cerco de poderosos lobbies voltados para o interesse do ensino privado.
Há algum tempo os noticiários mostraram um assaltante que havia obrigado uma mulher a sacar dinheiro da conta em um shopping de Itaim Bibi. O criminoso tinha curso universitário, era graduado em Odontologia! O sujeito está à deriva na vida, assim como uma massa cada vez maior de outros profissionais que tem diploma, mas não sabem exercer a profissão. Advogados que se formam nas universidades não passam nos exames da OAB e no entanto não existe garantia ao cidadão da idoneidade do profissional que passa nos exames mas acaba “assaltando” a ética e a lei em nome de ganhos mais substanciais.
O dentista preso por assalto não é muito diferente de outros que conseguem diplomar-se com conhecimentos medíocres e acabam engrossando as estatísticas de erros, com danos graves à saúde, como no caso do atendimento odontológico e também no erro médico.
O Brasil tem hoje 166 cursos de medicina autorizados pelo MEC e mais da metade, cerca de 61%, dos médicos formados entre 1996 e 2005, inscritos no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) não cumpriram com a residência médica! Esse índice sobre para 64% em termos de Brasil!
O drama do despejo de profissionais despreparados, aos montes, como se o futuro profissional estivesse contido em um simples certificado de curso universitário, é ameaçador.
A situação no Brasil se assemelha à enfrentada nos EUA, onde diplomas universitários terminam guardados no fundo de uma gaveta, enquanto que os profissionais graduados de diferentes áreas vão achar trabalho no mercado de nível médio ou técnico, ocupando vagas de outros profissionais que não puderam cursar o ensino superior, o que interfere no quadro social, "achatando" a busca de trabalho de classes sociais de menor escolaridade, que acabam sem opção. Ou aventuram-se em micro ou pequenos negócios, uma tendência já verificada no Brasil.
Antes de submeter-se a qualquer profissional, seja médico, dentista ou mesmo advogado, a alternativa é seguir algumas regras básicas de proteção para evitar danos a saúde ou prejuizos materiais:
1- Procure informações do profissional com outros clientes. Verifique se já existe alguma reclamação ou processo em andamento no Cremesp ou OAB (ou o orgão fiscalizador correspondente ao profissional em questão)
2- Peça a opinião de outro profissional para ter idéia da realidade de diagnósticos, intervenções e medicações, da mesma forma que faria com orçamentos de serviços para sua tv ou máquina de lavar (infelizmente chegamos a esse ponto de comparação)
3- Desconfie de profissionais, sejam eles médicos, cirurgiões-dentistas ou outras áreas, que não esclarecem em detalhes o diagnóstico ou a intervenção ou outros procedimentos, inclusive de andamentos de processos.
4- Peça sempre recibos e guarde. Não vá em consultas, hospitais ou advogados sem alguém para acompanhar e apoiar você.
5- Nunca deixe de registrar queixa ou encaminhar denúncia se for vítima de incompetência ou má fé. Mesmo que alguém lhe diga que seu processo ficará anos rolando, não esqueça que os maus profissionais continuam fazendo vítimas pela falta de denúncias. Não faça isso, em hipótese alguma, por simples antipatia ou motivos fúteis.
Se acha que a competência custa caro, experimente a incompetência.
ResponderExcluirMiguel