quarta-feira, março 17, 2010

Limites

A cena é a seguinte: em uma avenida de Jundiaí policiais separam mãe e filha, um bebê de um ano e dois meses, após denúncia de que a mulher estaria pedindo esmolas e utilizando a crianca como chamariz.

O momento é traumático, com mãe e bebê aos prantos e berros. Por fim a crianca é arrancada dos bracos da mulher e levada em uma viatura policial para um abrigo.

A questão é complicada. Deixar que uma crianca seja usada para angariar esmolas é inadmissível e absolutamente contrário à lei. No entanto usar desse tipo de violência - arrancar a crianca dos bracos da mãe - também é condenável.

Vivemos uma crise de valores tão grande, que os limites entre o certo e o errado estão ficando confusos. Para evitar danos psicológicos ao bebê a justica acabou cometendo outro ato traumático, que sem dúvida rendeu um transtorno para a crianca. Seria muito mais fácil recolher mãe e filha até o abrigo, acalmar o bebê e então levar a mulher para a delegacia.

Mas não temos tempo nem expediente para evitar os erros que tentam punir outros erros e infracões.





Vivemos a "era do protocolo". Que é isso? É um tipo de comportamento padrão que facilita o atendimento em diferentes setores, mas acaba distorcendo e trazendo muitos prejuizos que tornam o sistema inoperante, ou seja, não resolve muita coisa não...

Protocolos são uma verdadeira praga, pois querem simplificar o que é complicado justamente pela sua diversidade.

Não podemos nivelar a tudo e a todos. Na medicina o protocolo de médicos leva pessoas a ingerir medicamentos desnecessários ao seu caso individual. Se uma crianca chega com a garganta irritada, ela terá receitado os mesmos antibióticos de outra com infeccão mais grave. Mas por que? Porque é esse o "protocolo" do pediatra!

Na dúvida, todos recebem tratam ento padrão. Isso é ruim para quem poderia vencer o problema apenas com boa alimentacão e acompanhamento? É sim! Então por que receitar antibióticos desnecessários? Para garantir ué! Esse é o protocolo!

E por ai vai. Na área de saúde ou na burocracia de reparticões públicas, na educacão, na Justica, em todo canto! É a praga do modelo pré-fabricado que deve caber em todos os manequins! O que ninguém explica é como pode um modelo único de comportamento ou atendimento servir para tamanha diversidade de situacões!

A conclusão que se chega é que nossa sociedade é regida por robôs, programados (e mal programados em muitos casos) e sem a autonomia profissional e o bom senso que permite a necessária adaptacão de regras e leis ao caso em questão! Parece monografia de fim de curso, que segue tão rigidamente as regras a ponto de ser sempre absolutamente igual. Ou seja, não prova capacitacão, mas apenas adaptacão ao padrão!

Conhecimento limitado e enquadrado e acões idênticas para situacões diferenciadas?

Essa nossa crise de criatividade e conhecimento mostra o risco da mediocridade social. Em nada beneficia o controle da violência e os desafios
que ameacam a organizacão social. Pelo contrário, perpetua os erros e aumenta a dor de cabeca do cidadão. Assim vamos mal!

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