quinta-feira, janeiro 21, 2016

A SAÚDE, OS MÉDICOS E O SISTEMA


Uma modalidade dos dedos de silicone, que permitem
gravar as digitais  dos médicos e outros funcionários que
fraudam a presença no trabalho
A cena impressionou todos que estavam presentes na sala de espera: o filho de um senhor, que passava mal enquanto aguardava por mais de 30 minutos o atendimento, levantou-se nervoso, abriu a porta do consultório pedindo atenção e quando recebeu a resposta de deveria "esperar ou ir embora", ele simplesmente deu um murro no médico.
Na confusão que se seguiu, o que mais se  ouvia, entre os que aguardavam, eram palavras de apoio ao agressor. "Tem médico que abusa mesmo".
Por que os médicos andam em risco, cada vez maior, de levar sopapos?
Mais graver ainda: o que leva um profissional da saúde, treinado para atender pessoas em situação de fragilidade fisica ou mental, a atitudes grosseiras e intimidadoras com pacientes?
A figura amiga, afável e preocupada do médico de família do século passado, não existe mais, reclamam as pessoas. Boa parte de profissionais credenciadas para o atendimento médico, estariam agindo como se não tivessem o domínio necessário para essa função, que, em resumo,exige confiança do paciente para ser bem sucedida.
As reclamações contra o novo "estilo de atendimento" de boa parte dos médicos não se resumem ao atendimento público ou a especialidades. Acontecem em hospitais e clinicas particulares, em clinicas de exames e laboratórios e envolvem também pessoal de suporte, como auxiliares de enfermagem e atendentes.
Em tempos de crise, parece que os profissionais da área da saúde não vão nada bem. A mercantilização da medicina, a partir do comercio das universidades, é fator de peso nessa decadência da qualidade no atendimento.
Entre as denúncias e reclamações, que nem sempre são formalizadas, estão a irritação dos profissionais no atendimento, o desleixo com diagnóstico e preparo para traduzir ao paciente o que pode estar acontecendo com seu organismo, a pressa no contato com o paciente, total ausência de empatia e até mesmo irritação e desprezo nesse contato.
Ao mesmo tempo, essa nova caracteristica de atendimento acaba tornando a procura muito maior, lotando ainda mais as salas de atendimento: os pacientes negligenciados ou dispensados sem diagnóstico ou tratamento adequados, acabam retornando, geralmente com piora dio quadro clinico.
Nos velhos tempos, culpava-se o sistema. Hoje a acusação de péssimo atendimento é contra o pessoal que trabalha, sem qualidade profissional.
No YouTube, cenas gravadas por pacientes e acompanhantes mostram cenas inacreditáveis, onde até ações criminosas, como desleixo e negligência, erro de medicação e até espancamento de pacientes, ficam comprovados.
Nos vídeos situaçoes bizarras, inacreditáveis, são exibidas: um médico espanca um paciente na UTI, que acaba falecendo. Em outro uma médica berra pelos corredores, ameaçando pacientes que reclamam da demora. Outra gravação mostra os pais desesperados, pedindo que uma pediatra atenda uma criança. A profissional recusa-se, irritada, aos berros.
Um dos vídeos mais bizarros mostra pessoas tentando desesperadamente transportar uma senhora que  parece desmaiada, após longa espera, no próprio  banco coletivo onde se encontra, tentando encaixa-lo dentro do consultório, onde o médico sequer levanta da cadeira.
É, as cenas são aterrorizantes.
As pessoas filmam as salas cada vez mais lotada, com pacientes em estado crítico aguardando há muito tempo, enquanto 4 médicos dormem na salinha de descanso.
Dormir, aliás, é um dos problemas, principalmente no atendimento público. Por que? A justificativa, não oficial, é claro, é a de que os médicos trabalham em jornadas seguidas. Por isso dormem em serviço!
Profissionais cansados, esgotados, constituem-se em risco para o cidadão que precisa de atendimento medico adequado. Os motivos não importam: esta profissão exige responsabilidade e ética, uma vez que lida com vidas humanas. Um erro pode ser fatal!
Mas a ética e a responsabilidade parecem coisa do passado também: dedos de silicone, com as digitais dos profissionais que deveriam estar presentes, são um artifício mais comum dos que a sociedade gostaria de admitir.
O problema dos "médicos fantasmas", aqueles que teoricamente estão trabalhando, mas na prática não estão fazendo atendimento, é um dos maiores desafios do Sistema Único de Saúde, o Sus, variando de gravidade conforme o Estado. Em São Paulo, as denúncias são muitas.
"O Sus é ruim porque os medicos desafiam a lei da física. Apesar de terem um único corpo, muitos médicos  ficam em dois, três ou quatro lugares ao mesmo tempo. Eles ganham do Sus, mas trabalham em clinicas e hospitais particulares" , ironiza o "Carta Campinas".
"A saúde no Brasil, em geral, é alvo de muitas queixas. Até mesmo para reclamar do atendimento, muitas vezes é difícil" , diz matéria publica por "O Globo", para justificar a tendência do "atendimento express", empresas que oferecem raio X ou check-up completo a baixo custo, em espaços montados em shoppings.
A categoria médica está perdendo a confiança da população e esse fato é um duro golpe para a medicina brasileira, que mostra grande evolução em pesquisas e procedimentos. Parte da responsabilidade, ou a maior responsabilidade, pertence ao próprio Conselho Federal  de Medicina e à leis maleáveis e pouco realístas, mantidas por nossos legisladores.
Enquanto isso, a alternativa encontrada pelo cidadão é a voz de prisão aos profissionais de medicina que rejeitam a ética e a responsabilidade. Profissionais que fecham as portas do atendimento de emergência à ambulâncias, ao Samu ou a unidade dos bombeiros, mandando "procurar outro hospital", que dormem em serviço apesar da fila de pacientes ou que simplesmente fazem "passo de tartaruga" no atendimento, recusam consultas ou que não mostram capacidade para diagnosticar e orientar pacientes.
Aliás, não é mais incomum a prisão de médicos que recusaram atendimento. Entre os casos está a de uma parturiente, recusada por uma médica e que acabou tendo um parto difícil na unidade móvel que a transportava, com a perda da vida do bebê, e outro caso, no Distrito Federal, onde o paciente que havia caido de um viaduto também morreu, depois de ter atendimento negado pelo médico.

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