Duas posturas no Supremo chamam a atenção do cidadão brasileiro: o ministro Marco Aurélio citou o "clamor público" que exigiria punição no caso do Mensalão. Recebeu do ministro Luiz Roberto Barroso a resposta de que decisões do Supremo não podem render-se a pressões da mídia ou de populares, mas ser baseadas na lei.
Em um momento, declaração de um ministro e resposta de outro, definiu-se a Justiça em todos os seus aspectos, neste caso e em todas as ações da magistratura, no Brasil e no mundo!
O julgamento dos envolvidos no caso que ficou conhecido como "Mensalão" é o maior exemplo da dificuldade do ato de julgar. O que significa um julgamento? Decidir o destino de alguém é certamente a maior responsabilidade de outro ser humano.
O julgamento do mensalão certamente não acaba com a corrupção, que vai muito além desse episódio, antes ou depois de sua denúncia. Mas com certeza é uma lição importante na demonstração dos conceitos utilizados em julgamento e portanto nos fatores que podem prevalecer como sendo os mais justos.
Platão já dizia acertadamente que um juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas sim para julgar de acordo com as leis e o bom senso.
Leis são fundamentais. É nelas que podemos basear as decisões. Se uma lei é mal formulada ou mal intencionada, a Justiça não é atingida. Parece ser este o mal moderno. As leis foram tão reformuladas e remendadas que a ação de julgar tornou-se um desafio. A postura clara e o bom senso tornaram-se indispensáveis em julgamentos, em qualquer instância ou questão.
A pressão da mídia é outro aspecto que deve ser avaliado com atenção pelos magistrados. Ora, a mídia nem sempre representa a voz do povo, pois é justamente a força de sua denúncia que levou à formação da " imprensa artificial", aquela que representa pequenos grupos mesmo que tenha grande abrangência na divulgação.
Quanto ao clamor popular, o que ele manifesta é desejo de que a corrupção seja combatida. Não da imolação de alguns que não vai representar real combate à essa corrupção, principalmente se pairam dúvidas se houve ou não interesse político e falta de provas na acusação de parte dos envolvidos. Não há interesse apenas e punir porque a injustiça que se faz com um, é ameaça a toda sociedade.
Um argumento muito repetido entre os ministros que negam os chamados embargos infringentes é a "situação do Supremo Tribunal Federal" diante da opinião pública. Constantes adiamentos e recursos a decisões, em um longo julgamento. Mas o que se espera é rapidez ou Justiça? Diante de outros julgamentos em tribunais brasileiros, o "Mensalão" até que foi muito rápido em seu resultado, apesar de sua complexidade.
Cita-se também a credibilidade no STF. Ora, a credibilidade vem da seriedade e de argumentos que convençam a população de que está havendo busca da Justiça e a continuidade de julgamentos em muitos outros casos já comprovados e que parecem ficar no esquecimento. Não da mera condenação.
Não é o Supremo Tribunal Federal, mas toda o Sistema Judiciário brasileiro que está sendo criticado pelo cidadão comum ou mesmo por juristas altamente qualificados.
A justiça mistura-se à política nos impérios, onde quem decidia o destino de outros era o soberano ou o ditador. Baseava-se muitas vezes no clamor popular (e não necessariamente no bom senso das leis) e ressaltava os interesses do Estado e não dos direitos de que era julgado, nem tampouco a favor do equilíbrio social ou direitos humanos.
Nos novos tempos e em regimes democráticos o sistema judiciário é um poder que funciona independente dos poderes Executivo e Legislativo.
Portanto se há dúvidas e o nosso Supremo Tribunal Federal está dividido, o pedido dos que se julgam prejudicados e injustiçados tem fundamento. A divisão é clara e inconteste: há dúvidas. Há entre os que foram condenados pessoas que podem ser inocentes. Não há pior drama para um magistrado do que condenar alguém inocente. Melhor arriscar a absolvição de um culpado do que condenar um inocente, já dizia sabiamente Voltaire.
É bom que o Supremo Tribunal Federal, que agora terá a decisão final - o "desempate" - na questão dos embargos infringentes através do ministro Celso de Mello, evite deixar no ar a eterna impressão de que o caso "mensalão" ainda ficou pairando na interpretação popular como uma armadilha política em uma corrupção que mantém suas raízes profundas, que precisam ser combatidas sem descanso. (AC)
MIRNABLOG analisa os acontecimentos e discute as dúvidas com imparcialidade, respeitando a sua inteligência
sexta-feira, setembro 13, 2013
sexta-feira, setembro 06, 2013
CONGRESSO E VOTAÇÕES SECRETAS
Votações secretas no Congresso: cidadão não aceita segredos de seus representantes em tempos de democracia e de denúncias de mau uso do cargo legislativo. |
Cada vez mais o cidadão reclama da falta de transparência no trabalho de deputados e senadores - e isso em todas as instâncias do legislativo.
Qual o motivo do voto ser secreto, em uma casa legislativa que deve representar a opinião e a vontade popular? A grosso modo, parlamentares não são autônomos ou proprietários de seu cargo. São pessoas que colocaram sua capacidade de legislar a serviço da população, em representação direta, mas nada pessoal. O que faz um parlamentar considerar-se no direito de trabalhar incógnito? Ou de tomar decisões que contrariam a necessidade do país?
Transparência tem sido a reivindicação popular mais significativa. Ao contrário do que afirma o presidente do Senado, Renan Calheiros, a população não quer "apenas votação aberta em cassações". Essa afirmação demonstra a importância de tornar toda a qualquer ação na Câmara Federal e Senado aberta ao acompanhamento popular, pois é indício de confusão nas prioridades da Casa.
Parlamentares como Aécio Neves defendem "votação protegida", sem acesso da população. Mas como boa parte do Congresso, não defende abertamente a exclusão de qualquer votação secreta, o que leva a crer que emendas poderão ser aprovadas para impedir que a população tenha acesso a todas as ações do Senado e do posicionamento do legislador que elegeu para representa-la.
Uma situação absurda, que vai na contra-mão da transparência tão desejada. O que pode criar novos movimentos populares contra os parlamentares.
quinta-feira, setembro 05, 2013
PESO E MEDIDA DE UM ASSASSINATO
Mais um exemplo da suavidade da punição a assassinos pela Justiça brasileira é o da jornalista Sandra Gomide, morta a tiros por Pimenta Neves, também jornalista e diretor de redação do jornal O Estado de São Paulo na época do crime, em 2000.
Pimenta foi condenado a 19 anos, 2 meses e 19 dias de prisão. Mas conseguiu redução da pena para 14 anos, 10 meses e 3 dias de reclusão. Permaneceu em liberdade até 2011, graças aos recursos infindáveis, e agora, apenas dois anos depois, conseguiu passar a usufruir o regime semi-aberto.
Longe de criticar a decisão da juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da Vara de Execuções Criminais de Taubaté, que considerou o requisito temporal para progressão de regime prisional e bom comportamento, só resta lamentar os disparates de nossas leis, que incentivam indiretamente o crime, banalizando a vida humana, que neste caso de Sandra Gomide vale mera punição de dois anos em regime fechado.
A sociedade é leiga, dizem os juristas. O cidadão é chucro, sugerem nossos senadores e deputados, ao cometer disparates em seu trabalho no Congresso. No entanto, a lógica da ética e do bom-senso parece estar mais aguçada no meio social, do que nos resultados da burocracia, seja ela forense, seja ela legislativa.
Parece uma missão impossível tornar nossas leis mais claras, objetivas e representativas da ética. A coisa é muito simples, na cabeça da população leiga: matou? Por que? Existe justificativa?
Se foi um crime, que haja julgamento e punição. E cumprimento da pena.
Pimenta Neves não é assassino serial ou marginal comum. Mas é um criminoso que matou movido por baixos instintos, de maneira premeditada, o que levou à pena máxima no julgamento, gradativamente reduzida depois.
Será que o fato de ficar dois anos com "bom comportamento" exemplifica a punição de ter subtraído a oportunidade de outra pessoa viver? Ele, o assassino, tem o direito a uma pena branda porque tem "bom comportamento"em uma prisão fugaz, por ter decidido que Sandra Gomide não iria mais viver?
Que tipo de mentalidade alimentamos na nossa sociedade? A Justiça não pode flutuar, deve ser uníssona, clara, justa e ética. Não se pode reduzir a dimensão de um erro, nem criar artifícios que privilegiam quem paga bons advogados. Justiça só é justiça quando equilibra os dois lados da questão.
Isso para que se torne um exemplo claro à sociedade. Caso contrário a vida deixa de ser valor principal, já que não vale mais do que dois anos de reclusão em regime fechado. Uma punição que serviria a quem compra carne clandestina servida a clientes no restaurante, ou que lesa o fisco, ou que se atreve a receber propina em cargos públicos...mas não a quem conscientemente tirou a vida de outra pessoa, nunca em homicídios dolosos, que aos invés de serem suavizados, deveriam ser duramente penalizados conforme a gravidade que os envolvem.
Pimenta foi condenado a 19 anos, 2 meses e 19 dias de prisão. Mas conseguiu redução da pena para 14 anos, 10 meses e 3 dias de reclusão. Permaneceu em liberdade até 2011, graças aos recursos infindáveis, e agora, apenas dois anos depois, conseguiu passar a usufruir o regime semi-aberto.
Longe de criticar a decisão da juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, da Vara de Execuções Criminais de Taubaté, que considerou o requisito temporal para progressão de regime prisional e bom comportamento, só resta lamentar os disparates de nossas leis, que incentivam indiretamente o crime, banalizando a vida humana, que neste caso de Sandra Gomide vale mera punição de dois anos em regime fechado.
A sociedade é leiga, dizem os juristas. O cidadão é chucro, sugerem nossos senadores e deputados, ao cometer disparates em seu trabalho no Congresso. No entanto, a lógica da ética e do bom-senso parece estar mais aguçada no meio social, do que nos resultados da burocracia, seja ela forense, seja ela legislativa.
Parece uma missão impossível tornar nossas leis mais claras, objetivas e representativas da ética. A coisa é muito simples, na cabeça da população leiga: matou? Por que? Existe justificativa?
Se foi um crime, que haja julgamento e punição. E cumprimento da pena.
Pimenta Neves não é assassino serial ou marginal comum. Mas é um criminoso que matou movido por baixos instintos, de maneira premeditada, o que levou à pena máxima no julgamento, gradativamente reduzida depois.
Será que o fato de ficar dois anos com "bom comportamento" exemplifica a punição de ter subtraído a oportunidade de outra pessoa viver? Ele, o assassino, tem o direito a uma pena branda porque tem "bom comportamento"em uma prisão fugaz, por ter decidido que Sandra Gomide não iria mais viver?
Que tipo de mentalidade alimentamos na nossa sociedade? A Justiça não pode flutuar, deve ser uníssona, clara, justa e ética. Não se pode reduzir a dimensão de um erro, nem criar artifícios que privilegiam quem paga bons advogados. Justiça só é justiça quando equilibra os dois lados da questão.
Isso para que se torne um exemplo claro à sociedade. Caso contrário a vida deixa de ser valor principal, já que não vale mais do que dois anos de reclusão em regime fechado. Uma punição que serviria a quem compra carne clandestina servida a clientes no restaurante, ou que lesa o fisco, ou que se atreve a receber propina em cargos públicos...mas não a quem conscientemente tirou a vida de outra pessoa, nunca em homicídios dolosos, que aos invés de serem suavizados, deveriam ser duramente penalizados conforme a gravidade que os envolvem.
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