terça-feira, janeiro 01, 2013

MEDICINA E MORTES ANUNCIADAS

O caso da garotinha que morreu ao ser atingida por uma bala perdida (ou não exatamente casual) levantou novamente uma questão gravíssima que vem sendo pouco discutida pela sociedade: até que ponto o profissional de medicina pode errar?
Ao causar de maneira direta ou indireta a morte de um paciente que teoricamente poderia ser salvo, pessoas que têm a responsabilidade de salvar vidas perdem a sua função.
O receio que se tornou pesadelo da sociedade de que alguma coisa está fora do lugar quando o assunto é atendimento médico não tem origem em algum fator desconhecido. Fica claro que estamos formando e despejando no mercado de trabalho profissionais de medicina sem preparo e sem o senso da profunda responsabilidade dessa função.
O assunto é tabú! Por que?
Porque a medicina integra uma daquelas atuações diferenciadas e reverenciadas pelo medo do futuro. Se um magistrado embuído da força de sua toga representa uma figura inatingível e irrepreensível, uma espécie de semi-deus que detém o poder do destino daquele que está julgando, o médico assume esse estado meio divino quando o paciente também se torna absolutamente fragilizado em suas mãos, sabendo que sua saúde e sua vida estará dependente da capacidade daquele profissional.
Não podemos interpretar todas as profissões de uma mesma maneira. Há atuações que tem o peso de vida e morte. A questão não pode ser tratada de maneira artificial e baseada em preceitos e conceitos da economia de mercado.
Medicina é um campo de trabalho que deve estar acima de objetivos financeiros e quaisquer outros que envolvam a superficialidade da vida moderna. Podemos nos enraivecer contra o tecnico que fez um péssimo serviço em nossa tv de última geração ou mandar às favas o pintor que deixou a tinta escorrida no portão. Mas nada podemos fazer para reparar um erro ou uma negligência médica que subtraiu as chances de vida de um semelhante.
É preciso redescutir - e muito - a formação de nossos profissionais de medicina, sua vocação e sua intenção no desempenho da profissão. Caso contrário poderemos tentar criar o mais perfeito sistema de saúde, que ele nunca funcionará. Sem o fator humano responsável, a saúde não funciona. Sem o médico competente e responsável, não há medicina. (MM)

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