terça-feira, setembro 04, 2012

LIMITAÇÕES AO EXERCÍCIO DO JORNALISMO

Teoricamente todos sabem o que é jornalismo. Na prática essa profissão, com toda a sua diversidade,  não está sendo devidamente avaliada. 
Quando se fala em imprensa, a tradução comum  é de "arauto da realidade". É uma característica histórica. 
Essa qualidade de contribuir com transformações no mundo social está sendo cada vez mais sobrepujada pela nova mentalidade que divide o jornalismo em fatias de mercado, a serviço exclusivo de atividades empresariais, tornando o ensino direcionado e resumido a essas condições impostas pelo mercado.

Não seria tão ruim conviver com o jornalismo fatiado, se fossem mantidos os princípios e os estímulos ao jornalismo social, investigativo, intelectual, ético e idealista. Mas a voracidade da mídia está engolindo essa alternativa cada vez mais, criando faculdades e cursos de especializações que sufocam os espaços do jornalismo já em crise de identidade.
Aparentemente há  grande confusão em relação à necessidade de valorização da categoria do jornalismo. Ninguém pode ser contra cursos universitários ou graduações. Todo conhecimento é absolutamente necessário. Jornalismo envolve necessidade de estudo e pesquisa, interminavelmente, enquanto existir um sopro de vida...no jornalista. 

O problema é justamente o contrário: até que ponto corremos risco ao centralizar e limitar as necessidades de formação em jornalismo ao âmbito acadêmico.
Cursar uma faculdade leva a um diploma que indica apenas a formação acadêmica para um mercado muito amplo. O diplomado que chega ao mercado está razoavelmente qualificado para escrever um texto ou coletar dados.

Assessorias de imprensa por exemplo tem um trabalho direcionado, específico, uma modalidade do jornalismo. Trabalhos na mídia em geral idem. Jornalismo virou uma atividade tão diversificada, que perdeu a própria identidade. Confunde-se jornalismo com relações-publicas e publicidade.
Para esse tipo de atividade a faculdade serve bem. Mas raras são aquelas que impulsionam a capacidade de pensar, de digerir as informações com qualidade para repassar a realidade que o leitor busca ávidamente, de mergulhar nas aparências turvas  para trazer do fundo a verdade límpida.

Dependemos todos do jornalismo social, da imprensa informativa, imparcial, teóricamente  sem compromisso com grupos economicos ou políticos. Esse tipo de jornalismo não se aprende simplesmente porque exige qualificações que uma faculdade não pode fornecer, apenas estimular. É o jornalismo intectual, que esclarece aquilo que o público não consegue entender. É o jornalismo emocional, que detecta no meio os desajustes que afetam a sociedade e a colocam em risco; o jornalismo ético, que é em última análise a principal referência dos acontecimentos e sua credibilidade ao cidadão.

A formação do jornalista repórter, editor, articulista, enfim, acontece de maneira espontânea, não tem uma medida universal e não pode ser pasteurizada como disciplina escolar, apenas abordada e estimulada. 
Depende do miolo. Qual é ele? A curiosidade, a sede do conhecimento, prazer pela leitura, pela escrita,  capacidade de absorver informação, de digerir essa informação com qualidade e repassa-la de maneira clara, ética e perfeita para o leitor. 

O ambiente acadêmico é importante fonte de orientação e conhecimento, mas o que vai garantir a ação do jornalismo imparcial, da imprensa livre, são características individuais. Mas mesmo essas qualidades inatas podem ser distorcidas pelo ensino direcionado ao mercado e não ao jornalismo social.

Antes de exigir de uma atividade, que precisa ser livre por natureza, os limites de sua atuação - como a exigência de um diploma de faculdade de jornalismo para o exercício profissional - a sociedade precisa avaliar qual é o tipo de profissional que estamos credenciando. Em que mãos estamos limitando uma ação que é basicamente social, mesmo que sirva a gregos e troianos em sua diversidade. 

Nenhuma sociedade democrática pode prescindir da livre imprensa. A livre expressão não acontece sem que aqueles que se profissionalizam na atividade jornalistica possam explorar livremente a todos e tudo aquilo que se relaciona com o futuro dessa sociedade. 

O que não quer dizer que não haja necessidade de assegurar direitos profissionais para a categoria e responsabilidade de atuação. Justamente pela necessidade de liberdade para averiguar fatos, denuncia-los, explica-los, enfim, atuar diretamente na comunidade, o jornalismo precisa de regras claras e rígidas, onde prevaleça a ética, com dura punição para aventureiros da grande mídia, ou não, que utilizem a força das publicações com objetivos pessoais ou de grupos econômicos e políticos, distorcendo a realidade. 
Com a liberdade de expressão preservada, é preciso enfatizar a responsabilidade do jornalista.

Não é possível comparar o jornalismo com outras profissões. É uma ação única, que objetiva a consciência social. Não podemos enlata-la.
A inteligência artificial pode atingir a perfeição nas correções de textos, na rapidez das pesquisas, na memória dos fatos. Técnicas do jornalismo podem ser adaptadas e até exercidas mecanicamente. 
Mas jamais poderemos substituir ou mecanizar a mente humana e sua capacidade de observar e pensar o meio, de emocionar-se e exercer o senso de justiça e equilíbrio tão fundamentais à harmonia social. 
É preciso avaliar seriamente essa questão, antes de levantar bandeiras que podem condenar o jornalismo a um futuro amorfo e uniformizado, perpetuamente explorado por regras do mercado. (Mirna Monteiro)

sábado, setembro 01, 2012

CANDIDATOS A GRANEL

É impressionante o número de pessoas que disputam o cargo de vereador no próximo pleito. São 449 mil candidatos em todo país, a maioria sem qualquer experiência para a função. Muitos candidatos!  Naturalmente isso interessa aos partidos já que o sistema proporcional  determina o preenchimento de vagas  de acordo com a votação obtida pelo partido ou coligação.
Mas impressiona. E faz pensar: o que significa para todas essas pessoas, extremamente diversificadas, com expectativas e discursos tão indefinidos, conseguir uma cadeira no Legislativo?
A nossa Constituição garante o acesso à candidaturas políticas, no caso do vereador a partir dos 18 anos. Não existe exigência de formação. Teoricamente, todo cidadão que vota pode ser votado. Espera-se naturalmente que aquele que se candidata tenha domínio do conhecimento para poder exercer o cargo caso seja eleito.
Aí é que ocorre o conflito. Se de um lado todos os direitos são iguais e um cidadão comum pode perfeitamente entender de política tanto quanto um doutorado (ou até melhor), de outro é preciso reconhecer que nem todos que concorrem a um cargo político sabem o que isso significa na prática. O candidato a vereador vai legislar, analisar, sugerir ou vetar projetos e outras ações que interferem diretamente na vida da  comunidade.
Mas não é só isso: vai enfrentar uma burocracia até abusiva, regulamentos pouco claros, estratégias de bancadas e pressão de lobistas. Dificilmente uma pessoa que não tem conhecimento mínimo e acompanhamento dessa realidade escapará da malícia e manipulação política.
Ou não? Para grande parte do eleitorado, imaginar um cidadão iniciante em política parece significar renovação ou uma maneira de neutralizar antigos vícios. Talvez se todas as cadeiras de uma Câmara Municipal fossem substituídas por personalidade inéditas em política...mas  aparentemente ocorre o contrário e qualquer noviço que tente modificar a ação legislativa é neutralizado pelo sistema e burocracia existentes. Para aqueles que são convidados pelos partidos ou estimulados a uma candidatura, mais do que a certeza de atuar de maneira eficiente está a sedução de uma atividade bem remunerada, que acena com as vantagens do poder!
É um desafio escolher entre tantos candidatos o seu vereador. Não há tempo para conhece-lo, eles surgem em flashes nos horários gratuitos e congelados, mudos, na propaganda escrita e na poluição dos santinhos. São os "puxadores de voto", ainda assim esperançosos em atingir a meta.

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