A grande discussão nas redes sociais que teve como ponto de partida o oportunismo político de um grupo denominado MBL (Movimento Brasil Livre) que defende ideias de direita e extrema direita, colocou em evidência dois importantes desafios da atualidade: o conceito de arte e sua limitação e a falta de maturidade e bom senso da sociedade em lidar com uma grave agressão à criança: a pedofilia.
O que museus e exposições de arte tem a ver com pedofilia? Nada obviamente!
A arte também funciona como crítica do meio. Não tem poder de deflagrar comportamentos criminosos.
O objeto da balbúrdia foi uma performance da obra "Bichos", apresentada em uma única sessão no MAM, Museu de Arte Moderna de São Paulo, onde um artista apresentava-se despido. A nudez, em ambiente separado e onde apenas entrava e compartilhava da apresentação pessoas que sabiam de seu conteúdo, não tinha qualquer objetivo erótico. Muito pelo contrário. Como a interação era permitida, justamente como forma de derrubar preconceitos contra o corpo, sem conotação sexual, algumas crianças que estavam acompanhadas de seus pais, interagiram com o artista.
Foi o suficiente para que políticos evangélicos e esse grupo MBL atacassem furiosamente o museu, esbravejando a "imoralidade" e o "estímulo à pedofilia" na apresentação de um corpo nú masculino.
Esse tipo de reação é preocupante, porque não ajuda em nada as distorções, muito pelo contrário. O que é que combatemos? A anatomia humana ou a doença e a criminalidade sexual?
O direito das crianças está entre quatro paredes, onde a sua inocência fica confusa diante da brutalidade da pedofiia, que acontece em mansões ou casebres de papelão, e da exploração sexual quando vivem em ambientes miseráveis e são jogadas à rua para prostituição.
Outros museus, principalmente europeus, estão sendo pressionados por essa nova mentalidade reacionária, que estimula o uso de armas e violência, mas condena a crítica aos costumes e a liberdade de conhecer e debater tabus.
Obras de arte, seja em murais ou telas da antiguidade, sempre retrataram a nudez, natural em todos os animais e em muitas culturas.
O nú na arte sempre teve uma conotação de expandir a liberdade individual, em meio a culturas extremamente hipócritas, onde o corpo coberto estimula imaginação sexual e não impede estupros e abusos.
A ignorância dos riscos que uma criança sofre com artifícios de criminosos pedófilos, que raramente são descobertos, é um agravante para alimentar o crime. Imaginar que uma criança que não é alertada sobre esses riscos, entendendo a diferença entre a mera nudez e o perigo do abuso sexual, esteja "preservada", é algo irreal e perigoso!
O apelo à sexualidade hoje é impossível de ser controlado. Está em todos os lugares. Não é a nudez, mas o apelo sexual e a sensualidades excessiva que acabam sendo interpretados da pior forma possível pelas crianças mantidas na ignorância das funções do corpo.
O risco não está em museus. Está nas novelas de tv, nos bailes funk e nas musicas de baixa qualidade e alto consumo e até nos desenhos infantis, de maneira subliminar ou nem tanto.
Centrar a "cruzada purificadora" em museus não resolve nada. Muito pelo contrário, perpetua a exploração da criança sem testemunhas.
De maneira hipócrita e escondida. Faz de conta que o corpo não existe e que os crimes contra a criança são ficção!
Assim desejam aqueles que cometem o crime de pedofilia ou exploram sexualmente crianças: que toda a sociedade finja que isso não existe!