A tal ponto que incomoda e levanta a questão: é importante condenar os possíveis culpados ou fazer justiça, respeitando a falta de provas neste caso tão polêmico, onde pairam dúvidas sobre a possibilidade de ter sido planejado, sobre esquemas velhos e rotineiros de corrupção, apenas por motivos de disputa de poder político e justamente para desviar a atenção da corrupção sistêmica?
Outra coisa importante que incomoda o cidadão que quer tudo às claras: se há centenas de outros casos de corrupção, porque não aproveitar a necessidade de reabilitação da Justiça - que vem sendo acusada de inoperante há décadas e décadas, flutuando entre a corrupção e a mentalidade popular do "rouba, mas faz" (que afinal é absurda afirmação. Quem rouba não faz, enrola nas grandes empreitadas que renderam fortunas nas décadas de 80 e 90) e otimiza-se os inúmeros julgamentos de casos de corrupção semelhantes ou ainda mais graves do que o "mensalão", onde rareiam provas materiais?
Perguntas e perguntas. Mas é certo que a decepção do brasileiro com a Justiça é o acúmulo de processos em todas as suas instâncias, é a falta de controle da interferência política nos tribunais, é a falta de ênfase em tantos casos de corrupção que ficam "esquecidos" nas prateleiras e uma série de outros motivos óbvios que tornam o sistema judiciário relativo e não absoluto.
É com isso que o ministro Joaquim Barbosa deveria preocupar-se, ao dizer que o caso "mensalão", que envolve meia duzia de gatos pingados, poderá comprometer a crença do brasileiro na Justiça. Infelizmente, essa crença já existia e apenas vai deixar de existir quando a Justiça atuar de forma ampla e não centrada em um caso que deixa dúvidas sobre a idoneidade dos denunciantes, além de tornar o STF cenário de grande discórdia, não em relação ao objetivo de Justiça, mas sim à decisões que podem ser injustas.
O que vai acontecer com a credibilidade na Justiça, definitivamente, não tem a ver com um caso isolado, mas com a rigorosidade com que os casos ainda pendentes de corrupção serão julgados.
O "mensalão" não vai conseguir reabilitar a fé do brasileiro na Justiça.Mas a condenação de centenas e centenas de outros políticos envolvidos em casos escabrosos nas últimas décadas, isso sim, trará credibilidade e impedirá que seja mantida uma conotação partidária da corrupção.
O Ficha Limpa, por outro lado, está conseguindo o que os tribunais não conseguem: está barrando candidatos que se envolveram em casos de corrupção e que, infelizmente, ainda não foram punidos com o rigor necessário pela Justiça. No ano passado centenas de candidatos foram impedidos de disputar o pleito ou assumir cargos graças a essa ação.
Isso funciona. Porque não centra a ação em um único caso, em uma ilha no meio de um mar corrupto. Só "mensalão", negando ainda o direito de ampla defesa dos réus? Não vai funcionar para tornar o povo mais confiante na Justiça.