Segundo nota da OAB "Patrícia pagou com a vida seu compromisso com a Justiça". As falhas no sistema tornam o cidadão vulnerável no desempenho da função criada para preservar o próprio meio... |
Situações extremas exigem comentários extremos. Vivemos uma fase onde a Justiça é atravancada, vilipendiada e menosprezada.
Esta é a visão geral. Sabe-se que o problema existe, mas para combate-lo dependemos de vontade política e adesão de todos aqueles que exercem funções no mecanismo judiciário.
Nossa Justiça passa por temperaturas instáveis. Temos o frio e o quente e em grande quantidade o morno que acaba prejudicando por omissão. No extremo das denúncias de juízes corruptos encontramos os magistrados que defendem a todo custo a sua função, sofrendo pressões do próprio sistema viciado. Exemplos dessas pessoas que atuam com a mais absoluta firmeza e dignidade na função nem são tão raros, mas acabam se perdendo na massa de profissionais da Justiça.
O assassinato da juíza Patrícia Acioli Lourival, na noite desta quinta-feira, ilustra bem o drama vivido por magistrados que mantém-se firme na disposição de enfrentar o crime. No ano passado Patricia Acioli Lourival decretou a prisão de quatro cabos da Policia Militar que fariam parte de um grupo de extermínio e supostamente acabou em uma lista de doze pessoas marcadas para morrer. Agora integra outra lista, a de magistrados que por cumprir a sua função acabaram perseguidos e mortos, o que torna o país uma espécie de terra sem leis. Ou de leis que não podem ser cumpridas!
É preciso que a sociedade contribua para que magistrado possa trabalhar com retidão e o máximo de bom-senso, sem se sentir ameaçado ou assediado. Ameaçado pelo crime organizado, assediado por quem acha que pode dominar a Justiça através da compra de sentenças ou sob influências políticas. São ações marginais que têm um poder limitado, não impedem que o sistema judiciário funcione de acordo com sua finalidade, mas atrapalham e reduzem a força de combate à criminalidade e aos abusos ao cidadão, desacreditando instituições da qual dependemos para viver.
O juiz Odilon: exemplo não só de coragem, mas de dignidade no exercício do cargo. Se esta fosse a regra, o poder da criminalidade seria minado |
Isso exige conscientização e esforço, tanto dos juristas quanto da sociedade em geral, no apoio as medidas e na vigilância da ordem. Isso para que casos como o do juiz federal Odilon de Oliveira não continuem a ocorrer. Oliveira vive no Fórum da cidade de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, sob forte escolta, para poder continuar exercendo sua função. Em um ano condenou 114 traficantes e confiscou seus bens (12 fazendas, num total de 12.832 hectares, 3 mansões - uma delas avaliada em R$ 5,8 milhões e 3 apartamentos, além de casas, dezenas de veículos e 3 aviões, tudo comprado com dinheiro das
drogas). A ironia é que para poder prender bandidos, vive sem liberdade.
Apesar de extremo - nem todas as condenações envolvem o crime organizado como nessa área da divisa com o Paraguai, o exemplo do juiz Odilon mostra que apenas a determinação e a firmeza podem combater o crime e tornar a Justiça viável. O crime se alimenta da impunidade.
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