terça-feira, março 31, 2009

Serviço militar e questões filosóficas

O assunto que movimentou a semana e recebeu as mais absurdas opiniões é o caso do rapaz que conseguiu obter dispensa do serviço militar alegando "razões políticas e filosóficas", isso depois de mais de quatro anos tentando essa alternativa.

E daí? Foi dispensado. Razões políticas e filosóficas a respeito do que? De ter de passar seis meses de treinamento básico, com cabelo escovinha e de verde-oliva? Ou essas razões seriam baseadas no fato de não concordar com o fato do serviço militar existir?

Isso lembra a afirmação de um general americano, em 2007, durante o governo Bush. Disse ele que o retorno do serviço militar obrigatório seria "uma questão política, de como enfrentar, de uma maneira ou outra, as necessidades militares do país". Disse isso porque o serviço militar obrigatorio nos EUA não existe desde 1973.

Se alguém alegar que os EUA são exemplo para abolir o serviço militar no Brasil, demonstrará insanidade. Ora, nesse caso, por que motivo o Brasil, que é um país que sempre manteve-se nos limites éticos e sempre respeitou a soberania alheia, possui obrigatoriedade do serviço militar aos jovens?

O Brasil está em outro extremo. Enquanto paises como os EUA mantém o poder bélico crescente e colocam em primeiro plano os orgãos de inteligência e a força militar, o Brasil passou o último século com outras preocupações.

É obvio que mantivemos nossas Forças Armadas. O Brasil possui o 15º maior efetivo militar do mundo. Na América do Sul é o maior...mas isso é ainda pouco se considerarmos as dimensões do país e sua população.

O preconceito do brasileiro com o serviço militar não é uma questão política, nem tampouco filosófica, como no caso do rapaz que conseguiu sua suada dispensa. É uma questão cultural. Brasileiro "é de paz", sempre ouvimos.



Mas a paz necessita ser defendida também e a soberania de um país deve ser levada a sério. Opiniões emitidas em um programa na TV demonstram bem que existe uma confusão entre a vontade e a determinação de viver em paz, e o conhecimento obtido no serviço militar.

No entanto uma coisa não pode existir sem a outra!

Portanto o serviço militar obrigatório é simplesmente uma necessidade estratégica do país, que não perde tempo estimulando seus cidadãos a gostar de guerrear. Mas que também não pode deixa-los sem proteção. O que deixa claro que é preciso reconhecer a realidade que impõe a necessidade de defesa da paz e a garantia de um Estado soberano.

segunda-feira, março 23, 2009

Catolicismo e camisinhas

Preservativos estão se tornando o centro de uma discussão política. Quem diria que a proteção emborrachada para vivência da sexualidade sem doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez indesejada teria um dia um papel político de tamanho realce?

Afinal, o que é que camisinha tem a ver com política?

O papa Bento XVI declarou em alto e bom som que a aids não pode ser combatida só com dinheiro ou com a distribuição de preservativos. Pelo contrário, disse Bento XVI, camisinhas só aumentam o problema".

A reafirmação de uma postura contrária ao uso de preservativos, já adotada pela Igreja e defendida anteriormente pelo papa Paulo II, levou populares a balançar a cabeça, discordando. Na opinião geral, preservativos são indispensáveis em um mundo onde o sexo é exercido sem controle e sem maiores cuidados.

Se não houver preservativos de sobra, dizem as pessoas, doenças como a aids e outras sexualmente transmitidas vão acabar com a humanidade! O papa Bento XVI responde que a aids só poderá ser combatida com "uma humanização da sexualidade e uma renovação espiritual humana que comporta uma nova forma de conduta de uns com outros".

Provavelmente o que Bento XVI quer dizer é que a gravidade das doenças como a aids atingiu um grau tão preocupante que o preservativo que protege pessoas não contaminadas é apenas um paliativo de pouca utilidade em meio à miséria, violência etnica e exploração na Africa, o país que deverá atingir uma mortalidade de 22 milhões de pessoas - homens, mulheres e crianças - nesta próxima década.

"PRESERVATIVOS SÃO INEFICIENTES
DIANTE DE UM PROBLEMA QUE ENVOLVE
VIOLÊNCIA, MISÉRIA E EXPLORAÇÃO"


Incrível? É sim, incrível! Esse estrago corresponde a 200 vezes a bomba de Hiroshima em numero de vítimas!



Por isso, falar em preservativos na Africa parece mesmo um tanto quanto....ineficiente! O problema na Africa resume uma questão política dramática, cuja responsabilidade vai além de suas fronteiras, que afinal foram violentamente invadidas e exploradas, de maneira metódica e cruel. A aids parece ser uma resposta ao mundo, de uma natureza vilipendiada.

A omissão dos paises desenvolvidos diante da trágica situação da Africa, com sua multiplicidade etnica e a ausência de uma política de fortalecimento econômico próprio, resulta em um alto preço. Hoje não há isolamento possível: estamos todos interligados, não apenas economicamente, mas cada vez mais cultural e socialmente.

"O MUNDO PAGA CARO PELA OMISSÃO
EM PAISES COMO A AFRICA, EM UM
MOMENTO ONDE TODOS ESTAMOS
INTERLIGADOS E DEPENDENTES"







Por esse motivo, é possível entender a postura da Igreja, não exatamente como uma opositora aos prazeres do sexo, mas dentro de uma realidade consciente: na África do Sul, a incidência de estupros é epidêmica como a própria Aids. Há quem acredite que um portador do HIV pode curar-se ao violentar uma virgem!

Vamos conseguir que as centenas de milhares de vítimas de estupro estejam protegidas por camisinhas...?

Oficialmente (ou seja, no mínimo) ocorrem 50 mil estupros por ano. A realidade mostra que esse número seja superior a 1 milhão.

Por isso falar em preservativos e pequenos investimentos, aqui e acolá, como remendos mal cerzidos e nunca terminados, em uma situação como a enfrentada pelo mundo, realmente sejam criticados.

Preservativos se tornam meras peças de uma política ineficiente. (Mirna Monteiro)

quarta-feira, março 11, 2009

Salário, crise e relatividade




Em tempos difíceis os absurdos da remuneração dos nossos parlamentares tornam-se realmente uma obscenidade, completamente fora do parâmetro da normalidade. Além de um salário altíssimo e de verbas adicionais, em plena fase de crise econômica mundial o Senado, neste mês de janeiro, deu-se ao luxo de pagar hora extra a 3.383 funcionários.

Entenderam? Vou repetir: pelo "excesso" de trabalho,funcionários do nosso Senado receberam R$ 6.252.008,92...

Impressionante. Claro, para quem está do lado de fora do Congresso. Quem está lá dentro vive em uma ilha isolada da realidade brasileira. Nossos parlamentares, do Senado e da Câmara Federal, seguindo por todas as instâncias do legislativo (assembléias estaduais e câmaras municipais)não trabalham em janeiro. Tem folga, bem entendido. Mas como sempre há pautas atrasadas para votação ou emergências, eles ganham a peso de ouro a hora extra.

Este é um direito ou uma imoralidade de nossos parlamentares? Qual seria a remuneração adequada?

Quem decide essa remuneração? Os próprios senadores, deputados e vereadores!





O salário líquido de deputados e senadores é de R$ 16.512,09, mais de um terço a mais do que o salário pago ao presidente da República. Absurdo sim...mas é verdade.
O gasto mensal com os 594 parlamentares (deputados federais e senadores) custa a nação brasileira R$ 9.808.181,46...considerando-se apenas a remuneração básica. Que na verdade é o menor gasto diante das verbas e serviços auxiliares! O auxílio moradia, por exemplo, chega a um quarto da remuneração! E enquanto isso apartamentos para parlamentares em Brasília ficam vazios ou são utilizados de forma irregular.

Absurdos que povocam indignação em tempos de fartura, mas explodem em tempos de crise.


A pergunta é a seguinte: por que ganha-se tanto para legislar? É muito difícil encontrar o Senado e a Câmara Federal (ou assembléias estaduais e câmaras municipais)com todas as cadeiras ocupadas nos horários das sessões. Estamos carecas de saber que projetos importantes são adiados por falta de quorum (artifícios políticos não justificam a ausência do parlamentar que é remunerado).

A alta remuneração, que chega a enormes somas no seu conjunto, garantem a absoluta retidão de nosso congresso? Eliminam os casos de corrupção, principalmente diante de pressões de lobbies?





A realidade demonstra que não. Não, temos casos de sobra sendo denunciados e apurados de corrupção dentro do Congresso Nacional. O exagero da remuneração (em um país onde o salário mínimo é de R$ 415,00) ofende a inteligência popular: o que torna um parlamentar tão especial para remunerações que chegam a R$40 mil, R$50 mil, a partir de um salário de R$ 16 mil?

O Brasil possui na esfera federal 81 senadores (30 têm problemas com a justiça e 23 com concessões de radiodifusão) e 513 deputados federais (163 têm algum problema com a justiça e 55 com concessões de rádio e/ou TV).

Mas não são apenas nossos deputados e senadores que se supervalorizam como trabalhadores. Há prefeituras que pagam muito bem. Em algumas cidades a remuneração básica fica entre R$18.088,88 e R$ 12 mil. Vale lembrar que assim com o nossos legisladores, existe ainda remuneração adicional para serviços e contratações.

Arquivo do blog