quinta-feira, outubro 06, 2011

DITADURA DOS PROTOCOLOS

A cena é a seguinte: em uma avenida policiais separam mãe e filha, um bebê de um ano e dois meses, após denúncia de que a mulher estaria pedindo esmolas e utilizando a crianca como chamariz.
O momento é traumático, com mãe e bebê aos prantos e berros. Por fim a criança é arrancada dos bracos da mulher e levada em uma viatura policial para um abrigo.
A questão é complicada. Deixar que uma criança seja usada para angariar esmolas é inadmissível e absolutamente contrário à lei. No entanto usar desse tipo de violência - arrancar o pequeno dos bracos da mãe - também é condenável.
Vivemos uma crise de valores tão grande, que os limites entre o certo e o errado estão ficando confusos. Para evitar danos psicológicos ao bebê a justiça acabou cometendo outro ato traumático, que sem dúvida rendeu um transtorno para a criança. Seria muito mais fácil recolher mãe e filha até o abrigo, acalmar o bebê e então levar a mulher para a delegacia.
Mas não temos tempo nem expediente para evitar os erros que tentam punir outros erros e infrações.

Vivemos a "era do protocolo". Que é isso? É um tipo de comportamento padrão que facilita o atendimento em diferentes setores, mas acaba distorcendo e trazendo muitos prejuizos que tornam o sistema inoperante, ou seja, não resolve muita coisa não...
Protocolos são uma verdadeira praga, pois querem simplificar o que é complicado justamente pela sua diversidade.
Não podemos nivelar a tudo e a todos. Na medicina o protocolo de médicos leva pessoas a ingerir medicamentos desnecessários ao seu caso individual. Se uma criança chega com a garganta irritada, ela terá receitado os mesmos antibióticos de outra com patologia mais grave. Mas por que? Porque é esse o "protocolo" do pediatra!
Na dúvida, todos recebemos tratamento padrão. Isso é ruim para quem poderia vencer o problema apenas com boa alimentação e acompanhamento? É sim! Então por que receitar antibióticos desnecessários? Como garantia em "caso contrário"! Esse é o protocolo!
E por ai vai. Na área de saúde ou na burocracia de repartições públicas, na educacão, na Justica, em todo canto! Aprendemos a não questionar situações burocráticas irreais e lesivas ao meio ou ao indivíduo, porque isso é " normal". Mesmo que um advogado desonesto se valha da honestidade de outros colegas profissionais e não dê satisfação de pormenores de processos - inclusive, digamos, recebimentos de compensações financeiras ou multas que vão para sua conta e  não são comunicados ao cliente, ele acaba sem punição porque não há denúncias. E não há denúncias porque isso é "normal" ou integra um protocolo da relação entre a sociedade e aqueles que se arvoram a trabalhar em sua defesa.
 É a praga do modelo pré-fabricado que deve caber em todos os manequins! O que ninguém explica é como pode um modelo único de comportamento ou atendimento servir para tamanha diversidade de situações!
A conclusão a que se chega é a de que nossa sociedade é regida por robôs, programados (e mal programados em muitos casos) e sem a autonomia profissional e o bom senso que permitem a necessária adaptação de regras e leis ao caso em questão! O resultado é uma " eterna monografia" de fim de curso, que segue tão rigidamente as regras a ponto de ser sempre absolutamente igual. Ou seja, não prova capacitação, mas apenas adaptacão ao padrão!
Conhecimento limitado e enquadrado e ações idênticas para situacões diferenciadas?
Essa nossa crise de criatividade e conhecimento mostra o risco do índice da mediocridade social. Em nada beneficia o controle da violência e os desafios que ameaçam a sociedade. Pelo contrário, perpetua os erros e aumenta a dor de cabeça do cidadão. Protocolos deveriam ater-se a sua função documental e não serem alçados à condição de ditadores comportamentais.

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