terça-feira, dezembro 05, 2006

CUIDADO COM O "BULLYING"

“D” enfrentava problemas de adaptação em qualquer ambiente. Desde pequeno era sistematicamente rejeitado pelas outras crianças. Conforme foi crescendo conseguia criar certos vínculos entre os colegas na escola, mas passou a ser a “vítima rotineira” das chacotas e brincadeiras. Era sempre o “zoado”, habituando-se às risadinhas, empurrões, fofocas e apelidos diversos.

Bem, até esse ponto temos a vítima e os “brincalhões”! Os demais colegas e alunos, que eram a maioria? Parte deles ignorava por completo qualquer cena de agressão à “D”. Outros sentiam-se intimidados e constrangidos e mesmo não concordando com essas brincadeiras omitiam-se.

Para os professores e diretores, essa situação era “inevitável no meio escolar”. Para os pais, “D” era um “banana”, que devia aprender a se virar! Antes de completar 16 anos, “D” fechou-se no seu quarto e fez um “coquetel” de comprimidos que pacientemente estava guardando e “colecionando” por meses a fio. Quando foi encontrado, já estava morto há mais de oito horas.

Você já ouviu falar de “bullying”? É um termo inglês para designar atos agressivos entre estudantes. Difícil encontrar um termo em português para traduzi-lo. Alguns professores acham que esse termo não se aplica ao cenário brasileiro, onde as escolas poderiam ser enquadradas além disso, por causa da violência na periferia.
No entanto o “bullying” causa a pior das violências. Mina vagarosamente toda a resistência das vítimas e as torna angustiadas e inseguras para o futuro.
No caso de “D”, foi o suicídio. Em outras circunstâncias, como vários ocorridos nos Estados Unidos, chega ao homicídio e assassinatos em massa, dentro da própria escola daqueles que se sentem vítimas. Esse tipo de atentado está acontecendo também no Brasil!
Quando o adolescente ou jovem pega uma arma e sai atirando dentro da escola, não está pensando em atingir apenas aqueles que o humilharam, mas todos, que no mínimo se omitiram!

Inclusive os pais e professores. Cada vez mais percebemos que tanto a ocorrência como o agravamento das consequências da humilhação e agressão à crianças no ambiente escolar têm relação direta com o ambiente familiar do agredido. Quando a criança ou adolescente encontra dentro de casa um apoio emocional e uma relação de afetividade, o bullying não provoca tantos estragos, sendo mais facilmente entendido e superado pela vítima.
Também a ação da escola, no sentido de vigiar e promover campanhas internas contra as agressões, mostrando que a figura realmente ridícula e desprezível é de quem agride ao semelhante, ajuda a criar um ambiente de maior confiabilidade e menores riscos de sequelas emocionais a criança perseguida. Como o bullying contamina seu espaço, criando ramificações que afetam toda a qualidade do relacionamento no ambiente escolar - e não apenas entre vítimas e agressores - deve obrigatóriamente ser reconhecido como um problema coletivo e nunca individual.

Em qualquer caso, a situação é grave e merece atenção dos pais e das escolas. A ocorrência e os estragos causados por esse tipo de comportamento estão aumentando. Pode acontecer desde muito cedo, ainda na pré-escola e ir piorando conforme aumenta a faixa etária.
Observe algumas características das crianças e jovens que sofrem com esse tipo de comportamento:
- São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda.
-São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa auto-estima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento
-Alguns crêem ser merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos.
-Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com freqüência, ou abandonam os estudos.

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