quinta-feira, janeiro 15, 2015

HUMOR OU TRAGÉDIA EM CARTUNS

A polêmica criada com a tragédia da morte de cartunistas do Charlie Hebdo, em um ataque terrorista, coloca em evidência a tradução do humor nos cartuns. Esse tipo de expressão, que pretende ser livre e  até libertária, serve como recurso para uma sociedade oprimida? Talvez para, em oposto, oprimir?  Ou valem as duas opções?
As charges do Charlie Hebdo pretendiam qual desses efeitos?
É difícil a crítica, neste caso do Hebdo, porque nada justifica o ato de terrorismo, ou a violência. Não há como aceitar uma reação que provoca tamanha tragédia, e a maioria dos críticos prefere o silêncio, a correr o risco de ter interpretada a crítica ao abuso das publicações, como alguma atenuante ao atentado criminoso.
Não há como aceitar o ataque ou justificar a ação terrorista.
No entanto, é preciso admitir que o uso da imprensa em geral, no mundo todo, passa por uma crise ética, onde acontece o abuso político ou comercial, em detrimento da informação correta e inviolada.
O uso do humor na política é absolutamente natural. As charges sempre tiveram o objetivo de traduzir uma condição opressiva, através das imagens bem humoradas, onde a realidade podia ser retratada com sutileza e inteligência, mesmo em tempos de censura. 





Humor de Henfil: inteligente e sutil. "Entre Henfil e Pasquimhouve a junção das forças demolidoras do sarcasmo
e da ironia para “oxigenar as mentes oprimidas
pelo pesadelo diuturno da boçalidade ditatorial”,
  definiu Janio de Freitas no prefácio do
 livro "
O rebelde do traço: a vida de Henfil"


O cartunista Henfil, por exemplo, tornou-se famoso com seus traços e críticas bem humoradas e ajudou a tornar leitura obrigatória o conhecido "Pasquim", um semanário que rompeu as barreiras da censura em plena ditadura brasileira, lutando contra a opressão no país. 
Para Henfil, o Pasquim, idealizado pelo cartunista Jaguar e os jornalistas Tarso de Castro e Sérgio Cabral, foi a "Lei Áurea da Imprensa". Ao longo dos anos ganhou dimensão e a participação de grandes profissionais das charges e do jornalismo. 
Não tem relação aparente com o Charlie Hebdo, que optou pelo humor agressivo ou até mesmo a agressividade com pouco humor, chegando a ser criticado por posturas preconceituosas e racistas em muitas de suas charges.



O Pasquim brasileiro é citado aqui como um exemplo do bom humor em boa causa, ou seja, podia chegar às raias do escracho, mas sempre contra a opressão ou centrando na crítica saudável aos costumes, sociais ou políticos.
E permite uma avaliação sobre a linha que separa o humor crítico, saudável, da agressão ou da manipulação do humor para oprimir. 
Mesmo porque o uso do humor, ou de um suposto humor, que beira a ofensa à dignidade do indivíduo ou ultrapassa a linha da critica inteligente para  transformar-se em agressão, preconceito e racismo, está se tornando comum, como se, para ser engraçado ou espirituoso e divertir, houvesse necessidade de agredir e humilhar. Talvez, se o objetivo for deturpar para servir à interesses que vão além da livre expressão. (Mirna Monteiro)


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