Essa nova realidade está causando confusão na interpretação do que seria a infância e adolescência em tempos de grande incentivo à violência e se realmente uma criança poderia ser considerada inimputável.
Há duas faces da nova realidade dos assassinos precoces. Bandidos do tráfico usam menores de idade para cometer crimes, comandando-os como se comanda um robô por controle remoto. Invariavelmente esses adolescentes e crianças são presos, passam por momentos de tensão e violência e acabam de novo nas ruas.
Outra face do problema mostra crianças que não estão na marginalidade, mas assassinam outras crianças de maneira oportunista. Há casos nos EUA e Inglaterra onde crianças de nove, dez anos, mataram outras menores. No Brasil também acontecem casos bizarros, como a morte de um menino em idade pré-escolar por causa do ferimento causado pela bala de um revolver disparado pelo coleguinha de sala de aula. Há outros casos envolvendo disputas diversas, como o aparelho de DVD que levou um garoto de 13 anos assassinar com um golpe de enxada o amigo de 12 anos, que foi enterrado no quintal.
Crianças que são assediadas por bandidos e que terminam dependentes de drogas, sendo treinadas para a marginalidade, tem sua explicação óbvia. Mas e aquelas que tem uma vida aparentemente normal e que matam por motivos fúteis?
A garota de 12 anos, 1m50 de altura, de Santa Maria, no Distrito Federal, sacou de uma faca que levava e matou outra menina de 15 anos, por simples desinteligência. "Levei um tapa na cara" disse ela, durante depoimento na delegacia.
O que se observa é um gradual desprezo pela vida, na mesma medida em que filmes e vídeo-games banalizam a violência. O sangue que espirra virtualmente ou nas telas da TV parece tornar-se tão corriqueiro e aceitável como o qualquer outro produto veiculado pela mídia, espremendo em algum espaço reduzido os valores éticos e morais que mantinham sob controle a violência.
A cena de comerciantes nos EUA fazendo promoções de armas de fogo para serem presenteadas à crianças é uma faceta do descontrole da violência. Armas leves, supostamente criadas para tiro ao alvo em mãos delicadas de crianças, mas que acabam sacramentando uma mensagem nefasta, a de um futuro onde o desarmamento e a tentativa de apaziguar o instinto primário humano é utópico.
Com isso a sociedade é obrigada a admitir que o sistema de vida está impondo graves desequilíbrios à formação básica da comunidade. O ser humano é o animal mais dependente de proteção desde que nasce e ao longo de seu crescimento físico, sendo essencialmente emocional.
Entre todos os casos da crescente violência infantil e adolescente, devemos admitir que as causas são abusos e violência da própria criança, que não é preparada para um mundo pacífico, mas para uma vida onde há dor, desrespeito, violação de seus direitos e negligência com suas necessidades. Não há como lidar com isso com fatores isolados.
Não é um problema da estrutura do Ensino ou de possíveis palmadas e beliscões corretivos ou da cômoda situação de reduzir a maioridade penal, que é uma grande besteira, embora seja importante punir, de alguma forma, os casos abusivos e hediondos, que devem ser julgados individualmente.
É algo mais complexo, que envolve um processo de deterioração dos valores morais e éticos, onde a única alternativa parece ser realmente o resgate da cidadania e a punição rigorosa não apenas da criminalidade, mas de toda a forma de violência, com vigilância redobrada de toda a sociedade para a proteção da criança.
É muito fácil destruir a personalidade de uma criança, tornando-a no futuro um sujeito agressor de seu meio.
Está aí a maior prova de que a questão não se resume a redução, cada vez maior, da idade em que uma criança ou adolescente assume sua responsabilidade penal: vulnerabilidade à interferência sofrida no ambiente. (Mirna Monteiro)
É algo mais complexo, que envolve um processo de deterioração dos valores morais e éticos, onde a única alternativa parece ser realmente o resgate da cidadania e a punição rigorosa não apenas da criminalidade, mas de toda a forma de violência, com vigilância redobrada de toda a sociedade para a proteção da criança.
É muito fácil destruir a personalidade de uma criança, tornando-a no futuro um sujeito agressor de seu meio.
Está aí a maior prova de que a questão não se resume a redução, cada vez maior, da idade em que uma criança ou adolescente assume sua responsabilidade penal: vulnerabilidade à interferência sofrida no ambiente. (Mirna Monteiro)
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