sexta-feira, dezembro 09, 2011

COMIDA ENVENENADA

Morte para quem manipula sem cuidados e problemas crônicos de saúde - que podem eventualmente também levar à morte - aos que consomem hortaliças, legumes e frutas com altos resíduos de pesticidas. Os agrotóxicos são maior ameaça do que supõe. E aí vem a pergunta: se todos sabemos a respeito dos riscos e do enorme prejuízo à saúde das populações, por que esses venenos, denominados pelo mercado como "defensivos agrícolas" são comercializados e largamente consumidos?
No pós-guerra descobriu-se que o dicloro-difenil-tricloroetano, ou DDT, usado para matar mosquitos em áreas de risco de malária e tifo, podia combater pragas e a substância começou a ser maciçamente utilizada em plantações. Não demorou para comprovar os riscos para a saúde: o DDT causava câncer e comprometia orgãos como o coração, fígado, rins e cérebro.
Nos anos 70 ele foi proibido. Em contrapartida a crescente indústria de pesticidas criou uma gama enorme de produtos para serem aplicados nas culturas, como inseticidas organofosforados, organoclorados, piretróides, fungicidas ditiocarbamatos, herbicidas fenoxiacéticos, dipiridílicos, fumigantes brometo de metila e fosfeto de alumínio. Tudo isso somado a grande incentivo para o consumo, que era movido principalmente pela obtenção de maior lucro e menor perda no plantio.
A justificativa era a seguinte: aplicados da maneira correta e diluídos na quantidade certa, os riscos de contaminação seriam "toleráveis", ou seja, não significariam necessariamente (porque tudo é relativo, desde a lavagem do alimento até a quantidade de seu consumo) prejuízo à saúde popular.
A terra foi sendo contaminada rapidamente. Nos anos 70 e 80 agricultores desavisados do risco (apesar da venda ser controlada, na prática isso não acontece e qualquer um pode adquirir venenos) enfrentaram problemas de saúde, de paralisia e morte. Não sabiam a quantidade certa a ser aplicada e tampouco que os tambores de veneno continuavam contaminados. Imigrantes japoneses que trabalhavam a terra e utilizaram os tambores como ofurô, morreram ou sofreram graves problemas neurológicos e orgânicos.
Venenos poderosos e mal administrados, que contaminam os aplicadores, o solo e a água (recipientes desses venenos são lavados em córregos e rios) e as populações.
Sempre houve tentativa de controle. Esporadicamente amostras eram analisadas pelo Instituto Biológico de São Paulo e os altos índices de substâncias venenosas nos alimentos era denunciada. Agricultores passaram a  usar equipamentos de proteção. Mas o restante - venda indiscriminada, aplicações exageradas e comida contaminada - vem piorando nas últimas décadas.
Por que?
A questão envolve um mercado mundial poderoso, com com fortes lobbies no Congresso e que movimenta em torno de 50 bilhões de dólares no mundo. Desde os anos 70, quando foi desenvolvido o Plano Nacional de Defensivos Agrícolas, que não só incentivava mas disponibilizava créditos para os produtores rurais dispostos a aplicar essa tecnologia venenosa, multinacionais produtoras de agrotóxicos se instalaram no Brasil com grandes vantagens de incentivos fiscais.
Qual  a alternativa para comer o alimento que deveria ser saudável? Existem paliativos, mas em muitos casos os venenos usados são absorvidos pela polpa do legume ou da fruta. Lava-se a casca, usando muita água corrente, mas arrisca-se o conteúdo.
É bom lembrar que o problema não está apenas na alimento crú. O veneno persiste no cozimento. A única alternativa é exigir um controle mais frequente da quantidade de pesticidas em amostras amplas, de modo a criar no agricultor senão a responsabilidade, pelo menos o receio de que no lucro obtido em plantações regadas a veneno pode ser ameaçado pelo consumo reduzido de seus produtos.
O Brasil é condescendente demais com os abusos de empresas que trabalham com produtos perigosos e isso inclui além dos defensivos agrícolas, a indústria farmacêutica e outra ameaça recente, a manipulação genética dos alimentos. Tudo isso exige um controle rigoroso. Há países que devolvem cargas inteiras de produtos brasileiros que chegam com resíduos de pesticidas. Esses mesmos produtos recusados por serem impróprios ao consumo são despejados no mercado interno.

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