“(...)Fiquei estarrecida com a quantidade de denúncias que são publicadas na imprensa de mães que matam seus próprios filhos (...) Nos EUA a mãe afogou as crianças que dormiam no carro (...) Deveríamos ter mais consciência, o mundo hoje é globalizado (...)Olga Vendramini
A violência contra crianças realmente cresceu. Os dados mais preocupantes se referem a recém-nascidos. Um cálculo feito na Índia, onde corpos de bebês são encontrados aos montes, concluiu que uma média de 7 mil recém-nascidos são mortos anualmente no país. O motivo apontado é a rejeição aos bebês do sexo feminino.O quadro não é muito diferentes em algumas regiões da China.Em Argel corpos de crianças levantam a suspeita de tráfico de órgãos.
E, como você citou, Olga, as mães também estão cometendo crimes contra os filhos por motivos fúteis. Os mais comuns envolvem adolescentes e jovens que matam a criança ao nascer, para livrar-se da “incômoda” condição de ser mãe. Esta semana vários casos semelhantes aconteceram no Brasil. Em um deles a câmera de vigilância da rua registra uma mulher caminhando com um embrulho envolto em saco de lixo preto e o colocando em uma caçamba de lixo. O bebê, ainda vivo, foi encontrado por um catador de lixo, depois de passar pelo menos um dia exposto ao sol e ao ambiente insalubre.
Outro caso uma adolescente deixa no banheiro do hospital o bebê que nasceu prematuro e tenta ir embora como se nada tivesse acontecido. O desleixo com a vida humana parece estar definitivamente provado com um terceiro acontecimento, em um hospital, desta vez com o corpo de um bebê falecido que estava no necrotério e que acabou indo para o lixo hospitalar, deixando a família que aguardava a liberação do pequeno corpo para o funeral, em desespero!
Desleixo e violência. Crimes contra a criança vêm ocorrendo de maneira ascendente. Não apenas nas áreas urbanas das grandes cidades de países da América do Sul ou os EUA, mas em todo o mundo.
O que está acontecendo?
É difícil definir o alto grau da violência como algo inusitado. Por toda história da humanidade o ser humano mostrou ser um animal feroz, movido não apenas pelo instinto de sobrevivência, mas também por questões culturais e desejo de poder. No entanto o acesso à informação e a discussão moral e ética dos últimos séculos permitiu estabelecer os limites entre o que poderia ou não ser admitido como conceito universal.
Como pode a sociedade moderna, embebida de informação, ainda que cada vez mais desprovida de valores que haviam sido resgatados, evitar alimentar a violência, que aparentemente se desenrola em áreas distintas, mas se volta contra o próprio meio?
Os indianos que entregam os bebês à morte por uma questão de sobrevivência futura, onde o dote da filha mulher pesará sobre os pais, cometem crime “justificado”? Por ironia, a Índia é um país onde o aborto é considerado crime!
Há o outro lado: paises que não sofrem com a pressão do “fardo feminino”, mas ao contrário defendem a liberdade feminina de ação, podem utilizar o assassinato de recém-nascidos como argumento para validar o aborto, que é um assassinato do bebê ainda no ventre?
Mulheres, principalmente adolescentes, devem receber atenuação pelo crime de assassinato dos bebês que acabaram de dar à luz, sob alegação de que não teriam condições de assumir a responsabilidade? Especialistas argumentando a respeito de "depressão pós-parto"não estão incentivando de forma indireta a irresponsabilidade materna?
Perguntas, com respostas que entram em choque com a realidade social, onde a ausência de valores cedeu lugar para atitudes pragmáticas. Vivemos a era do descartável e aparentemente a vida também está sendo tratada como um objeto de consumo.
No entanto a sociedade mundial fica em choque ao tomar conhecimento de fatos dantescos, como o de uma mulher que mata os dois filhos pequenos porque o amante não gostava de crianças ou uma babá assassina uma criança de três anos porque ela era irritante.
Todo ato violento terá uma justificativa, validada ou não pela circunstância, aceita ou não pelo meio. Em Papua, na Nova Guiné, doentes de Aids são enterrados vivos e o argumento é o de que não há como tratá-los e há medo da contaminação!
Em “Crimes da lógica” Alberto Camus faz uma análise interessante, estabelecendo relação entre ideologia e assassinato. “Se o assassinato tem suas razões, nossa época e nós mesmos estamos dentro da conseqüência. Se não as tem, estamos loucos e não há outra saída senão encontrar uma conseqüência ou desistir. É nossa tarefa, em todo caso, responder claramente à questão que nos é formulada no sangue e nos clamores do século. Pois fazemos parte da questão!
A violência, para ser contida, não pode ser admitida em nenhuma circunstância. Caso contrário, a sociedade perderá o controle sobre ela. Sem punição dos atos violentos as ocorrências se multiplicam perigosamente, tornando toda a sociedade refém de sua diversidade. (MM)